"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

outubro 29, 2010

ATAS DO COPOM LINGUAGEM CAMUFLADA, OU "PISANDO EM OVOS" PARA NÃO "RAIVAR" O ÉBRIO.


A leitura das atas das reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) exige espírito detetivesco para desvendar o que elas estão dizendo atrás de uma linguagem cautelosa em que se procura não melindrar o governo.

Talvez por isso, segundo analistas, a ata foi considerada muito passiva quando "se esperava um pouco mais de energia com a inflação corrente".

As autoridades monetárias estão satisfeitas com o amadurecimento do regime de metas de inflação, voltam a dizer que sua política tem efeito a longo prazo e, num ato de fé, consideram que em 2011 e em 2012 a inflação ficará no centro da meta fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).

A ata menciona que o mercado já responde de "maneira bimodal" à política do Copom, sabendo distinguir juros de curtos e de longos prazos.

Lembrando que a incerteza é geral no plano internacional, as autoridades monetárias consideram que a conjuntura exerce, no entanto, um certo viés desinflacionário - a reserva devendo-se aos esforços do governo para desvalorizar o real ante o dólar, que pode resultar em elevação dos preços, considerando o montante dos bens importados.

A recente volta das pressões inflacionárias, segundo a Ata do Copom, é episódica, levando em conta o choque de oferta dos produtos agrícolas.

A demanda dos consumidores continua robusta, fato que a ata sinaliza no final das suas considerações sobre a implementação da política monetária, e após a manutenção da taxa Selic, como se as autoridades monetárias não estivessem dando importância devida a ela.

Essa é uma posição que é justificada em diversos parágrafos anteriores.

Em primeiro lugar, o Copom tem como hipótese de trabalho que a meta do superávit de 3,3% do Produto Interno Bruto (PIB) será cumprida só com as deduções previstas na lei.

Sabe-se agora que o Banco Central não engoliu o último truque contábil do governo.

Mas o Comitê de Política Monetária não deixa de fazer uma crítica velada ao governo, quando lembra que trabalha com variáveis que incluem as políticas fiscais e creditícias, que dependem da atuação governamental.

De um modo elegante, nota uma moderação no dinamismo do mercado de trabalho "ex-administração pública", preocupa-se com os "impulsos fiscais" que poderão contribuir para estimular a demanda doméstica e, finalmente, adverte que, caso um cenário benigno não se concretize, "a postura da política monetária será ajustada de maneira a garantir a convergência entre o ritmo de expansão da demanda e da oferta".

É um aviso para o próximo governo.

O Estado de S.Paulo

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