"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

setembro 01, 2010

EM UM ANO UM POÇO DE LAMBANÇA NO PRÉ-SAL.


Na terça-feira(31/08), completou um ano que o presidente Lula anunciou, com pompa e circunstância, as regras do novo marco legal para exploração de petróleo no país.

Foi uma cerimônia em tom ufanista, inserida no calendário pré-eleitoral montado pelo Planalto para incensar a candidata oficial.

O que se viu nos últimos 365 dias, porém, foi uma lambança de proporções oceânicas.

Se, no curto prazo, o pré-sal já foi capaz de produzir tantos estragos, imagine o que pode vir nas décadas de exploração que temos pela frente.

A Petrobras e seus acionistas foram os primeiros a sentir os efeitos dos improvisos da atual gestão. Alguns números traduzem o prejuízo que a aventura petista tem trazido à companhia e ao país.

Nestes 12 meses, as ações ordinárias da empresa perderam 20% do valor e as preferenciais, 15%.

No ano, as cotações caíram mais ainda: 28% e 27,6%, respectivamente. Isso significa


que a Petrobras vale hoje US$ 57 bilhões menos no mercado do que valia em fins de 2009. Para o petismo, isso é bagatela.

A maior empresa brasileira está hoje com a corda no pescoço. Tem um vultoso plano de investimentos planejado, orçado em US$ 224 bilhões entre 2010 e 2014.

Não tem, porém, de onde tirar tanto dinheiro e não tem mais como endividar-se: sua dívida líquida já equivale a 34,74% do patrimônio líquido, conforme o balanço do segundo trimestre, e está próxima do limite a partir do qual a Petrobras fica ameaçada de perder o selo de "grau de investimento", o que pode levar seu valor a níveis ainda mais baixos.

Não espanta que grandes investidores estejam correndo das ações da Petrobras feito diabo da cruz. Gente acostumada a ganhar muita grana - como o húngaro-americano George Soros - já se desfez de tudo o que detinha na petrolífera.

Infelizmente, aos cerca de 90 mil trabalhadores que ainda têm participação nos fundos mútuos da companhia em que aplicaram seu FGTS só resta ver sua poupança derreter.

Em apenas 365 dias, o governo do PT foi capaz de produzir uma interminável série de equívocos.

Até agora, o novo marco legal só causou confusão, sem quaisquer ganhos para o país.

Dos quatro projetos enviados ao Congresso, dois foram aprovados - a criação da Petrosal e a capitalização da Petrobras - e dois ainda tramitam - o que adota o regime de partilha para a exploração das reservas do pré-sal e o que cria o fundo soberano.

Ou seja, sem que uma gota de óleo jorrasse, fomos capazes de criar uma nova estatal e aprovar uma megaoperação financeira que, prevista para acontecer daqui a 30 dias, ninguém sabe ao certo como será feita.

Em torno dela, digladiam-se interesses divergentes, nada transparentes e excessivamente ideologizados, como se vê principalmente na ANP.

A capitalização pode vir a movimentar um volume de recursos nunca antes visto na história das finanças mundiais, mas o cipoal de regras esdrúxulas que o governo criou é tão denso que é impossível saber se esse montante será de US$ 50 bilhões ou US$ 120 bilhões.

ANP e consultorias não se entendem quanto ao valor do barril que será adotado na operação, muito menos sobre qual de fato é o tamanho das reservas. Puro detalhe.

(...)

Neste meio-tempo, a Petrobras vai se deteriorando a olhos vistos.

Seguidas plataformas exibem problemas de manutenção e conservação e avolumam-se acidentes com seus empregados.

Trabalhadores não cooptados pelo sindicalismo pelego da CUT citam o balanço social da empresa para denunciar que acontecem um acidente por dia e duas mortes por mês nas refinarias e plataformas da companhia.

O pré-sal é apontado pelo ufanismo petista como a redenção de todas as mazelas do país.

Mas ninguém explica como, num passe de mágica, riquezas localizadas a quilômetros de profundidade, em condições absolutamente adversas, se transformarão em benefícios palpáveis para a população brasileira.

É possível aproveitar bem esta oportunidade ímpar, mas o que o governo Lula fez até agora foi tornar tudo mais incerto, nebuloso e imprevisível.

O pré-sal não precisa do risco PT.


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