"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

agosto 23, 2010

A POLÍTICA DO PAI E DA MÃE, E SEUS FDPs.


Autor e personagem de um vídeo que tomou conta da internet, em que é chamado de "otário" e "sacana" pelo governador Sérgio Cabral, além de ouvir do presidente Lula que tênis é "esporte da burguesia", o estudante Leandro dos Santos, morador de um barraco na Favela Nelson Mandela, no Rio de Janeiro, não tinha ideia da repercussão da gravação.


O episódio foi reproduzido por Italo Nogueira, repórter do jornal Folha de S.Paulo e pode ser conferido pelo amigo leitor em http://www.youtube.com/watch?v=KOKS_apCwzA.

O jovem, xingado por Cabral e ironizado por Lula, desnudou as duas caras dos homens públicos: o rosto amável e as palavras medidas diante das câmeras e o desprezo debochado na vida real.
(...)
Primeiro, o rapaz reclama da ausência de uma quadra de tênis no local e Lula diz que isso é "esporte da burguesia".

O presidente, então, pergunta por que ele "não treina natação".

Ao ouvir que a piscina fica fechada, Lula dirige-se a Cabral:
"O dia que a imprensa vier aí e vir isso fechado, o prejuízo político é infinitamente maior do que colocar dois guardas aí."

O comentário de Lula é revelador.
O que interessa não é o bem-estar dos pobres, mas o eventual arranhão na sua imagem.

Em seguida, Leandro reclama do barulho do "Caveirão", o blindado da Polícia Militar, em sua rua. Cabral interrompe-o e pergunta: "Lá não tem tráfico, não?" Quando o jovem diz que não, o governador rebate:

"Deixa de ser otário, está fazendo discurso de otário."

Otário, sacana e burguês - três carimbadas no rosto de um jovem favelado que teve a coragem de exercer a cidadania e de questionar governantes carregados de arrogância e armados de ironia cruel, mas que diante dos holofotes da mídia se apresentam como paladinos da luta contra qualquer tipo de discriminação.

Uma imagem grita mais que mil palavras.O vídeo está bombando na internet e causa irado constrangimento.

Nós, jornalistas, devemos refletir a respeito desse episódio. Ele revelou o que nossas pautas não costumam contar.

Mostrou a face verdadeira, o rosto sem maquiagens, a alma desprovida do botox do marketing. E é exatamente isso que devemos fazer.
(...)
Por isso, uma cobertura de qualidade é, antes de mais nada, uma questão de foco. É preciso declarar guerra ao jornalismo declaratório e assumir, efetivamente, a agenda do cidadão.

É preciso cobrir a fundo as questões que influenciam o dia a dia das pessoas.

O nosso papel é ouvir as pessoas, conhecer suas queixas, identificar suas carências e cobrar soluções dos candidatos.
Não se pode permitir que as assessorias de comunicação dos políticos definam o que deve ou não ser coberto.

O centro do debate tem de ser o cidadão, as políticas públicas, não mais o político.

O jornalismo de registro, pobre e simplificador, repercute o Brasil oficial, mas oculta a verdadeira dimensão do País real.

É importante fixar a atenção não nos marqueteiros e em suas estratégias de imagem, mas na consistência dos programas de governo.

Dilma Rousseff, por exemplo, diz que vai fazer o trem-bala. Baita declaração.
Mas é viável?
Como vai contornar a muralha da Serra das Araras?

E as infinitas desapropriações?
Ninguém fala disso.
O que fica é o efeito: "Vou fazer o trem-bala."
Ou: "Sou contra o aborto", mas considero o aborto "um problema de saúde pública."

Afinal, é a favor ou é contra?

Quer ampliar os casos previstos na legislação ou deixar como está?
"Sou contra a censura." Beleza.

Então, como explicar sua assinatura no 3.º Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3)?
Como explicar as sucessivas maquiagens nos seus planos de governo?

"Sou contra qualquer ditadura."

Ótimo.
Mas como explicar as declarações de apoio de Hugo Chávez à "amiga Dilma"?

E José Serra, é a favor ou contra a independência do Banco Central?

Nosso papel, embora com civilidade e respeito, não é registrar, mas questionar. Willian Bonner, âncora do Jornal Nacional, fez a sua parte com notável profissionalismo. O PT errou quando insultava Sarney, Collor e Renan Calheiros ou errou depois ao se aliar a eles?

"Antes o PT não tinha experiência, amadureceu no governo", respondeu Dilma.

A candidata, sem a blindagem imediata do marketing, mostrou sua concepção de política: um jogo pragmático e sem nenhum tipo de baliza ética.

Para ela, ser "maduro" é juntar-se ao que há de pior.

Cobrada sobre o resultado fraco no crescimento econômico se comparado com outros emergentes, culpou a "herança maldita" do governo Fernando Henrique.

Ainda não passou pela cabeça da candidata culpar Pedro Álvares Cabral pelo gargalo na infraestrutura.
Mas chegaremos lá.

O telespectador, sem contrabando opinativo, tira suas conclusões.

O jornalismo de qualidade, firme e independente, é rastreador da verdade. Não é nosso papel embalar candidatos, mas mostrar suas contradições.

É preciso incomodar.
Jornalismo cor-de-rosa não faz bem à democracia.

Original/Íntegra :

Lula e Cabral, vídeo revelador

Um comentário:

Anônimo disse...

Cabral é a melhor opção para o Rio. Queremos a continuidade de seus projetos e realizações...Estamos juntos por um Rio melhor!