Obviamente, o déficit externo é péssimo. É muito ruim que o nosso País mais perca do que ganhe no comércio internacional.
Também é motivo de preocupação o aumento do montante das remessas de lucros e dividendos enviadas para o exterior pelas multinacionais aqui instaladas.
Por estarem estas empresas explorando o mercado consumidor brasileiro, utilizando nossa infra-estrutura e contratando nossa mão-de-obra, é de esperar que grande parte dos lucros fique por aqui na forma de investimento ou, até mesmo, de impostos ou ações de contrapartida social e ambiental.
Contudo, a situação não é alarmante.
O Brasil não está nadando de braçada no cenário financeiro mundial, mas não chega a inspirar cuidados ou algo parecido.
Em suma, não há motivo para crítica dura à política econômica governamental por enquanto. Apenas algumas ressalvas – importantes é verdade – mas não argumentações de apoio a guinadas ou mudanças profundas.
Portanto, o que chama a atenção não é bem o viés econômico do aumento do déficit externo, e sim o viés político.
O que atrai olhares é o fato de o governo Lula, apoiado por grande parte da esquerda, pelos movimentos sociais e pelo sindicalismo, deter o recorde de déficit externo, ou seja, de lucros obtidos por multinacionais no País e remetidos ao exterior.
Não se trata de uma crítica ao governo em si, mas de uma constatação:
Como poderia o governo Lula ser interpretado como grande paladino em confronto com o capitalismo?
De onde surgem declarações sobre o governo que afirmam que ele mudou o que vinha sendo feito por Fernando Henrique Cardoso e passou a atrapalhar os planos do “capitalismo ianque, imperialista, selvagem e assassino”, como diz a esquerda caricata?
Em resumo, que lógica têm as falas de setores governistas da sociedade que, desconectados da realidade, afirmam que o Presidente Lula e seu governo deixaram de “governar para os banqueiros e para o capital estrangeiro”?
O capital estrangeiro, que traz investimentos muitas vezes necessários para o Brasil e que não poderiam ser feitos por capital interno, lucra tanto ou mais no governo Lula quanto no governo FHC.
A existência do Bolsa Família, a cooptação da CUT, da UNE e do MST e os posicionamentos “pré-queda do Muro de Berlim” de Tarso Genro, Marco Aurélio Garcia e afins não muda isso.
Distribui-se mais, é verdade, mas o capitalismo nunca lucrou tanto. Aqueles que trabalham em coberturas na Avenida Paulista gostam mais de FHC, mas não odeiam Lula nem um pouco. Quem sabe por isso o PSOL faça oposição ao governo.
Não se critica aqui o governo por incompreensão ou desaprovação da política econômica. Trata-se de dúvida a respeito de como podem alguns entender que a mesma coisa, sob Lula, deixa de ser a mesma coisa.
Talvez a resposta esteja em uma irracionalidade que surge a partir do momento em que não se quer aceitar que aquele em quem se confiou por eleições e mais eleições não fez aquilo que se esperava dele, sendo mais fácil se enganar.
Ou talvez o rótulo de entreguista – injusto – sirva para FHC e para Lula não. Simples assim. Incompreensível assim.
Via :
Bruno Kazuhiro
Perspectiva Política
Nenhum comentário:
Postar um comentário