"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

janeiro 22, 2010

Sobre o déficit externo. E governo Lula/FHC


Obviamente, o déficit externo é péssimo. É muito ruim que o nosso País mais perca do que ganhe no comércio internacional. 
Também é motivo de preocupação o aumento do montante das remessas de lucros e dividendos enviadas para o exterior pelas multinacionais aqui instaladas.

Por estarem estas empresas explorando o mercado consumidor brasileiro, utilizando nossa infra-estrutura e contratando nossa mão-de-obra, é de esperar que grande parte dos lucros fique por aqui na forma de investimento ou, até mesmo, de impostos ou ações de contrapartida social e ambiental.

Contudo, a situação não é alarmante. 
O Brasil não está nadando de braçada no cenário financeiro mundial, mas não chega a inspirar cuidados ou algo parecido. 

Em suma, não há motivo para crítica dura à política econômica governamental por enquanto. Apenas algumas ressalvas – importantes é verdade – mas não argumentações de apoio a guinadas ou mudanças profundas.

Portanto, o que chama a atenção não é bem o viés econômico do aumento do déficit externo, e sim o viés político. 

O que atrai olhares é o fato de o governo Lula, apoiado por grande parte da esquerda, pelos movimentos sociais e pelo sindicalismo, deter o recorde de déficit externo, ou seja, de lucros obtidos por multinacionais no País e remetidos ao exterior.

Não se trata de uma crítica ao governo em si, mas de uma constatação: 
Como poderia o governo Lula ser interpretado como grande paladino em confronto com o capitalismo? 

De onde surgem declarações sobre o governo que afirmam que ele mudou o que vinha sendo feito por Fernando Henrique Cardoso e passou a atrapalhar os planos do “capitalismo ianque, imperialista, selvagem e assassino”, como diz a esquerda caricata? 
 Em resumo, que lógica têm as falas de setores governistas da sociedade que, desconectados da realidade, afirmam que o Presidente Lula e seu governo deixaram de “governar para os banqueiros e para o capital estrangeiro”?

O capital estrangeiro, que traz investimentos muitas vezes necessários para o Brasil e que não poderiam ser feitos por capital interno, lucra tanto ou mais no governo Lula quanto no governo FHC. 

A existência do Bolsa Família, a cooptação da CUT, da UNE e do MST e os posicionamentos “pré-queda do Muro de Berlim” de Tarso Genro, Marco Aurélio Garcia e afins não muda isso. 

Distribui-se mais, é verdade, mas o capitalismo nunca lucrou tanto. Aqueles que trabalham em coberturas na Avenida Paulista gostam mais de FHC, mas não odeiam Lula nem um pouco. Quem sabe por isso o PSOL faça oposição ao governo.

Não se critica aqui o governo por incompreensão ou desaprovação da política econômica. Trata-se de dúvida a respeito de como podem alguns entender que a mesma coisa, sob Lula, deixa de ser a mesma coisa.

Talvez a resposta esteja em uma irracionalidade que surge a partir do momento em que não se quer aceitar que aquele em quem se confiou por eleições e mais eleições não fez aquilo que se esperava dele, sendo mais fácil se enganar.

Ou talvez o rótulo de entreguista – injusto – sirva para FHC e para Lula não. Simples assim. Incompreensível assim.

Via :
Bruno Kazuhiro
Perspectiva Política

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