"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

janeiro 16, 2010

E S P E R A N Ç A

Esperança: o menor dos males?

Quando Pandora, desafiando Zeus, abriu a caixa e liberou todos os males e defeitos da personalidade, lá estava, na mesma caixa, a esperança. Alguém já se perguntou o que a esperança fazia em tão má companhia?
 

Os gregos consideravam a esperança um mal, um defeito tão ruim quanto qualquer outro. Por isso Zeus a havia confinado na caixa de Pandora, junto com tudo o que temos de pior. 


A esperança, nessa perspectiva, é um defeito porque amarra o ser, impedindo-o de fazer o que precisa para mudar o seu destino. A esperança segura o homem, torna-o conformado e servil, ao dar-lhe a expectativa de algo externo e poderoso virá resgatá-lo, de que o futuro lhe reserva algo melhor. 
Por que desgastar-se com a luta agora, por que querer mudar, se há sempre a esperança de que as coisas vão melhorar por si?

Barack Obama foi eleito tendo como lema a promessa de mudar. O povo o escolheu na esperança de que ele será o arauto da mudança, empunhará a espada da verdade e da conciliação e recolocará os Estados Unidos e o mundo de volta nos trilhos. Porque ninguém mais tem dúvida de que nossa civilização andou descarrilhando alguns vagões pesados, no passado recente.

Mas poderá vir a mudança de um só líder? Não será essa mais uma vã esperança, um dos males da caixa de Pandora, a entorpecer as consciências e jogar para adiante as verdadeiras mudanças que a nossa era demanda?

Só há um modo de mudar o mundo:

mudar a si mesmo.

O mundo exterior é reflexo de nossa condição interna. Não adianta cultivar a esperança de que alguém mude o mundo para nós. Ou elevamos a nossa consciência e compreensão da vida, do meio, do outro, ou estamos fadados ao extermínio. 

Enquanto insistirmos em manter os padrões insustentáveis de produção e consumo como a locomotiva da nossa prosperidade, estaremos rumando para a desgraça. E de nada adianta esperar ou torcer para que as coisas mudem, se continuarmos a alimentar nossos desejos de consumo fútil, diversão fútil, vida fútil.

Como diz o antigo provérbio chinês, talvez confuciano, "o passado é história, o futuro é mistério, o presente é uma dádiva; é por isso que se chama 'presente'". Estaremos aproveitando essa dádiva para mudar a cada dia o nosso destino?

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