"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

dezembro 07, 2009

ADVERSÁRIO É PÚBLICO E ALIADO É PRIVADO


A velha história se repete?
 
Nossa democracia política é jovem: 
começou em 1945. 
Em 1932, havia 2,5 milhões de eleitores registrados. 
Em 2000, 110 milhões.
Hoje, são 130 milhões. 
No período da ditadura, 43 milhões de novos eleitores entraram no sistema. 
 
Essa dramática incorporação de eleitores foi acompanhada da também dramática ampliação do leque de candidatos.
Até 1930, no Brasil, a elite política era pequena. 
Hoje, basta olhar a lista de candidatos a vereador e prefeito que vemos muitos Zé da Padaria, Maria das Couves, Chico Bombeiro, etc. 
 
Isso não podia deixar de ter impacto na qualidade do voto, dos eleitos e das práticas políticas. 
Mas é um preço que temos de pagar pela tardia abertura do sistema.
Além do custo do atraso, houve ainda o custo da ditadura que afetou a qualidade e treinamento dos políticos oriundos da elite tradicional. 
 
Na realidade, o aprendizado democrático e republicano de milhões de brasileiros começou mesmo só depois de 1988. 
É muito pouco tempo. 
É possível que nossas mazelas se devam em boa parte a essa cronologia. 
E que, com alguma paciência, possamos nos educar para novos e melhores tempos.

A falta de limites entre público e privado também aparece na vida dos políticos, não só no manejo da coisa pública. 
Filhos fora do casamento, derrapadas verbais, amantes usados no jogo político... 
 
Já há sinais de que a campanha de 2010 será pesada. 
O que é pior para o político: 
o escândalo pessoal ou ser pego com a boca na botija?
A pergunta é boa.
O ponto é complexo: 
a vida pessoal de uma pessoa pública é assunto público ou privado? 
De um lado, há o dito: 
a mulher de César não só deve ser honesta como parecer honesta.
 
Nos EUA, país puritano, vigora essa ideia, a vida privada do homem público é pública. 
Na França, pelo contrário, país católico, a vida privada é privada. 
Entre nós, há ambiguidade e uso oportunista das duas regras.
A vida privada do adversário é pública, a dos correligionários é privada.