Local onde será contruída a fábrica da Hemobrás, em Goiana (PE): obras foram paralisadas e, por enquanto, só há um terreno terraplanado
VERBAS PÚBLICAS
VERBAS PÚBLICAS
Hemobrás: uma fábrica de viagens Idealizada para produzir hemoderivados, a Hemobrás ainda nem tem sede.
Seus dirigentes, porém, já gastaram R$ 129 mil em diárias de viagens, a maior parte em Paris.
Isso sem somar o valor das passagens
Lúcio Vaz
Lúcio Vaz
A Hemobrás ainda não saiu do papel, cinco anos após a sua criação.
Mas já rendeu muitas viagens internacionais aos seus diretores, a maioria delas a Paris.
Num período de dois anos, em 2007 e 2008, foram feitas 40 viagens ao exterior, sendo 26 à capital francesa.
Somados todos os diretores, foram 173 dias no exterior. A despesa com diárias alcançou R$ 129 mil.
E ainda falta contar o preço das passagens, todas na classe executiva.
O então presidente, João Baccara, e o diretor-técnico, Luiz Amorim Filho, foram sete vezes a Paris.
Estiveram ainda em Madri, Bruxelas, Caracas, Kyoto, Hilden e Washington, percorrendo quatro continentes.
Oficialmente, as viagens à França tiveram por objetivo a negociação do contrato de transferência de tecnologia para fracionamento de plasma fechado com o Laboratório Francês de Biotecnologia (LFB), no valor de R$ 16 milhões.
Mas o procurador do Ministério Público do Tribunal de Contas da União (TCU) Marinus Marsico contesta a real necessidade dos deslocamentos:
“Acho despropositado.
O que nos chama a atenção é que são justamente as pessoas que ocupam as funções de confiança.
Não observo viagens de técnicos.
Vejo viagens de dirigentes, o que não me parece muito lógico numa viagem com o objetivo de se fazer uma transferência de tecnologia”.
Ele disse que vai requisitar a documentação à estatal para verificar exatamente o motivo das viagens e quais os resultados.
“Vamos verificar o mérito disso”, completou.
No Diário Oficial da União, está expresso o “objetivo” das viagens autorizadas pelo ministro da Saúde, José Gomes Temporão.
Os temas são recorrentes:
avaliação do projeto básico da planta, discussão e conclusão da planta, avaliação final do projeto básico, discutir projeto executivo.
Depois de toda essa discussão, o TCU apontou sobrepreço e fraude em licitação no projeto da fábrica da Hemobrás, em Goiana (PE), e paralisou a obra.
O objetivo do empreendimento é tornar o Brasil autossuficiente na produção de albumina, imunoglobulina e dos fatores de coagulação 8 e 9.
Seminários
As viagens dos diretores da Hemobrás tinham várias motivações.
Além de participar das negociações em Paris, eles visitaram fábricas em Bruxelas e Ieper, na Bélgica, e em Chitose, no Japão.
Também estiveram em congressos em Madri e Kyoto, no Japão. Baccara acompanhou ainda uma comitiva do governo de Pernambuco a Washington, para “buscar parceiros” para o polo farmacoquímico do estado.
Esteve também em Caracas, duas vezes, discutindo parcerias com o governo da Venezuela.
A diária para viagens à Europa fica em R$ 788. Para os demais países, em R$ 553.
Ele deixou a presidência da estatal em agosto deste ano.