"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

novembro 30, 2009

VERBAS PÚBLICAS - ABUSO SEM FIM


Local onde será contruída a fábrica da Hemobrás, em Goiana (PE): obras foram paralisadas e, por enquanto, só há um terreno terraplanado - (Inês Campelo/DP/D.A Press )

 Local onde será contruída a fábrica da Hemobrás, em Goiana (PE): obras foram paralisadas e, por enquanto, só há um terreno terraplanado

VERBAS PÚBLICAS

Hemobrás: uma fábrica de viagens Idealizada para produzir hemoderivados, a Hemobrás ainda nem tem sede. 


  Seus dirigentes, porém, já gastaram R$ 129 mil em diárias de viagens, a maior parte em Paris. 

Isso sem somar o valor das passagens
Lúcio Vaz


A Hemobrás ainda não saiu do papel, cinco anos após a sua criação. 

Mas já rendeu muitas viagens internacionais aos seus diretores, a maioria delas a Paris. 

Num período de dois anos, em 2007 e 2008, foram feitas 40 viagens ao exterior, sendo 26 à capital francesa. 

Somados todos os diretores, foram 173 dias no exterior. A despesa com diárias alcançou R$ 129 mil. 

E ainda falta contar o preço das passagens, todas na classe executiva. 

O então presidente, João Baccara, e o diretor-técnico, Luiz Amorim Filho, foram sete vezes a Paris. 

Estiveram ainda em Madri, Bruxelas, Caracas, Kyoto, Hilden e Washington, percorrendo quatro continentes. 


Oficialmente, as viagens à França tiveram por objetivo a negociação do contrato de transferência de tecnologia para fracionamento de plasma fechado com o Laboratório Francês de Biotecnologia (LFB), no valor de R$ 16 milhões. 

Mas o procurador do Ministério Público do Tribunal de Contas da União (TCU) Marinus Marsico contesta a real necessidade dos deslocamentos: 

“Acho despropositado. 
O que nos chama a atenção é que são justamente as pessoas que ocupam as funções de confiança. 
Não observo viagens de técnicos. 

Vejo viagens de dirigentes, o que não me parece muito lógico numa viagem com o objetivo de se fazer uma transferência de tecnologia”. 

Ele disse que vai requisitar a documentação à estatal para verificar exatamente o motivo das viagens e quais os resultados. 

“Vamos verificar o mérito disso”, completou. 


No Diário Oficial da União, está expresso o “objetivo” das viagens autorizadas pelo ministro da Saúde, José Gomes Temporão. 

Os temas são recorrentes: 
avaliação do projeto básico da planta, discussão e conclusão da planta, avaliação final do projeto básico, discutir projeto executivo. 

Depois de toda essa discussão, o TCU apontou sobrepreço e fraude em licitação no projeto da fábrica da Hemobrás, em Goiana (PE), e paralisou a obra. 

O objetivo do empreendimento é tornar o Brasil autossuficiente na produção de albumina, imunoglobulina e dos fatores de coagulação 8 e 9.

Seminários

As viagens dos diretores da Hemobrás tinham várias motivações. 

Além de participar das negociações em Paris, eles visitaram fábricas em Bruxelas e Ieper, na Bélgica, e em Chitose, no Japão. 

Também estiveram em congressos em Madri e Kyoto, no Japão. Baccara acompanhou ainda uma comitiva do governo de Pernambuco a Washington, para “buscar parceiros” para o polo farmacoquímico do estado. 

Esteve também em Caracas, duas vezes, discutindo parcerias com o governo da Venezuela. 

A diária para viagens à Europa fica em R$ 788. Para os demais países, em R$ 553. 
Ele deixou a presidência da estatal em agosto deste ano.