Angeli
No ano passado, quando a ruína dos EUA contagiou o mundo e hipnotizou as manchetes, o Brasil era perseguido por dois tipos de previsão.
Numa, o país seria sugado pelo furacão. Noutra, seria salvo pela solidez de sua economia. O IBGE informa que prevaleceu a segunda hipótese.
A crise fez estrago de boa monta. Mas o PIB brasileiro voltou à trajetória de alta já no segundo trimestre deste 2009: 1,9%.
Perdeu-se a única estratégia visível da oposição. A crise levara o PSDB a idealizar para Lula um futuro de FHC.
No Plano Real, ainda sob Itamar Franco, o Brasil dispunha de muitos problemas, inflação alta e algum patrimônio público.
Ao fim de oito anos de tucanato, o Brasil eliminava a inflação, torrava o patrimônio e continuava submetido a muitos problemas.
A despeito do mau humor do eleitor de 2002, FHC achou que poderia impor José Serra como sucessor. Deu na eleição de Lula.
Pois bem, o tucanato imaginara que, sob crise longa, os eleitores voltariam a azedar, dessa vez contra Lula.
No sonho tucano, a popularidade de Lula despencaria. Ele iria à sucessão como um FHC reencarnado. Tentaria impor Dilma Rousseff. E elegeria José Serra.
Desfeita a macumba da crise, a oposição volta ao estágio anterior. Sobram-lhe candidatos –além de Serra, dispõe de Aécio Neves. Faltam-lhe mensagem e método.
O tucanato sabe que não vai se fazer na próxima eleição apenas destilando veneno. Terá de vender um sonho novo. Qual? Ainda não sabe.
Quanto a Lula, experimenta um drama inverso. Já dispõe do método e da mensagem. Falta-lhe o bom candidato.
Num instante em que a oposição imaginava que poderia congelar a sucessão, Lula inovou. Levou Dilma Rousseff à pista com dois anos de antecedência.
Lula como que convidou os adversários para a contradança. Funcionou. Mas só até certo ponto. O ponto de interrogação.
Arrastado para o centro da gafieira sucessória, o tucanato canta Noel : “Mas com que roupa?” Até aí, bom para Lula.
Porém, a audácia do presidente pode ter convertido uma ministra, numa péssima candidata. Lula fez de Dilma um alvo instantâneo e permanente.
A chefona da Casa Civil arde numa fogueira atrás da outra. O caso do dossiê anti-FHC, a adesão ao “Fica Sarney”, o diz-que-diz de Lina Vieira...
O currículo "recheado" e, para complicar, o imprevisto do câncer. Dilma diz ter derrotado o linfoma. Não há quem torça pelo contrário. Porém...
Porém, o eleitor minimamente informado sabe que a eventual eleição da ministra vai impor ao país uma presidente sujeita a recaídas.
Quem já deu de cara com um câncer sabe que a doença, mesmo depois de dominada, impõe ao paciente os exames periódicos.
Num país que teve de engolir José Sarney depois de ter festejado Tancredo Neves, doença grave não é algo que passe sem reflexão.
De resto, o drama do vice-presidente José Alencar aguça o inconsciente coletivo. O eleitor é convidado a lembrar que o vice de Dilma será um pemedebê.
Alan Marques/Folha
Cavalgando a popularidade do chefe, essa Dilma superexposta escalou rapidamente os dois dígitos nas pesquisas. Mas não subiu aos níveis idealizados por Lula.
Em particular, dizem, o presidente calculava que sua predileta ganharia a cara de favorita se chegasse ao final do ano com 30%.
A pouco mais de três meses da virada da folhinha, Dilma patina abaixo dos 20%, Lula mantém a colombina na pista. E aumenta o som da música.
Mas, nem tudo são flores, no campo das alianças, em público, o petismo recobre sua presidenciável, Dilma Rousseff, com um manto de otimismo.
Nos subterrâneos, dá-se coisa inversa. O PT passou a ter o receio de que os sócios minoritários do consórcio partidário do governo troquem Dilma por outros candidatos.
Legendas como PTB, PP e PR já flertam com uma opção tucana: o governador de São Paulo, José Serra (PSDB).
Aliados mais à esquerda –PDT e PCdoB— passaram a considerar a hipótese de se agregar à caravana de Ciro Gomes (PSB).
Enquanto o PSDB não consegue responder à pergunta de Noel, Lula vai de Zé Kéti. Cantando que os próximos anos não serão iguais àqueles que passaram.
Gaba-se de ter resolvido os velhos problemas. Dividiu a renda, pagou a dívida externa, acumulou reservas, domou a crise, isso e aquilo.
O que vai ao palanque de 2010, diz o presidente, é “o debate sobre o futuro”. Impõe aos adversários uma agenda e uma eleição marcada pelo signo da continuidade.
A oposição esperneia. Sustenta: o que há de novo sob Lula não é bom. E o que há de bom não é novo. Mas não consegue dizer o que fará de novo e de bom.
Lula faz o que lhe cabe. Carrega na estratégia. Posa agora de neo-Getúlio. Depois do pré-sal é nosso, acena com a CLS (Consolidação das Leis Sociais).
Toca o baile, rezando para que Dilma se revele a bailarina profissional que ele idealizara e que a multidão tem muitas dúvidas.
E/IMBS/C/JSU
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