"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

março 05, 2015

O ajuste "sujo" DA VIGARISTA


O governo Dilma tenta repassar rapidamente a conta de seu descontrole fiscal para a sociedade. Leniente com a inflação, também usa a corrosão do dinheiro no ajuste. É um expediente antigo, típico dos tempos de descontrole inflacionário.
Ministérios vêm atrasando pagamentos de bilhões a empreiteiras, obras do PAC e programas como o Pronatec. Com a inflação a 7,5% ao ano, os atrasos geram economia considerável. O dinheiro fica aplicado e rende ao governo até ser desembolsado ou chega desvalorizado ao credor, que fica com o prejuízo.

O déficit público nominal (que inclui gastos com juros) saltou, em apenas seis meses , do equivalente a 3,7% do PIB para 6,7% em dezembro. Algo brutal num período tão curto. Foi quando o governo pisou no acelerador dos gastos, já elevados, no período eleitoral.

Vencida a eleição, a conta veio forte e de uma vez. Via reajuste de tarifas de energia e gasolina, entre outros, aumento (ou eliminação de descontos) de impostos e cortes. Como para as 5 milhões de famílias que perderão a Tarifa Social de Energia.

A sanha e urgência tardia para equilibrar as contas têm duas faces: de um lado, procura evitar uma desconfiança ainda maior dos mercados sobre a capacidade do governo de pagar suas dívidas. De outro, pode ser letal para a economia neste ano e mais além, com forte impacto no emprego e retrocessos na melhora socioeconômica dos últimos anos.

A qualidade do ajuste que o governo Dilma faz entre receitas (em queda) e despesas é muito ruim, pois mantém intocada a "sujeira" da máquina estatal. O ajuste é muito menos focado no corte de gastos correntes (que se perpetuam indefinidamente) do que nos investimentos (como os do PAC).

Cortar investimento e aumentar impostos em um ambiente de queda da atividade e forte apreensão entre consumidores e empresários levará a economia ainda mais para baixo.

Em cima disso, pressão adicional dos gastos com juros altos para combater a inflação que saiu do controle. Só em janeiro, foram R$ 18 bilhões com juros, o que representa 2,5 vezes o corte do investimento em educação para todo o ano.

O primeiro governo Dilma foi incapaz de manter o relativamente próspero Brasil que Lula deixou ao adotar medidas, uma atrás da outra, sem muito planejamento e cuidado. "Grosseiras", como definiu o novo ministro Joaquim Levy (Fazenda) antes de levar um pito de Dilma.

No afogadilho, o início do segundo mandato não parece ser muito diferente.


O ajuste "sujo" de Dilma
Fernando Canzian é repórter especial da Folha.

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