"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

fevereiro 27, 2015

Delação de executivos da Camargo Corrêa trará novos nomes da Petrobrás

Após 103 dias presos na custódia da Polícia Federal no Paraná, base da Operação Lava Jato, dois altos executivos da empreiteira Camargo Corrêa estão prestes à fechar acordo de delação premiada, na noite desta sexta-feira, 27, com a força-tarefa que investiga cartel e corrupção na Petrobrás. Novos nomes da estatal poderão ser revelados – até aqui, três ex-diretores (Serviços, Internacional e Abastecimento) estão sob suspeita. E ampliar os focos de investigação para outras estatais e obras, como por exemplo do setor de energia.

Em troca de uma eventual redução de pena e a liberdade quase imediata Dalton dos Santos Avancini e Eduardo Hermelino Leite, o Leitoso, resolveram contar o que sabem sobre o cartel que se teria apossado de contratos bilionários da estatal petrolífera entre 2004 e 2012.

Dalton Avancini é diretor-presidente da Camargo Corrêa Construções e Participações S/A. Eduardo Leite é vice presidente da empresa. Eles terão que pagar multa de R$ 5 milhões cada.

Avancini e Leite são os primeiros executivos de uma grande empreiteira envolvida no escândalo que se dispõem a revelar os segredos da corrupção na Petrobrás. A reunião entre investigadores e defesas já dura horas e está em fase final de assinatura.

Eles se comprometem a apresentar muitos documentos e apontar nomes de outros dirigentes da Petrobrás. As delações não vão se restringir aos negócios suspeitos da Petrobrás. Deverão ser citados contratos de outras estatais.

Uma das obras que podem entrar no rol de grandes investimentos alvo do cartel deve ser a construção da Usina de Belo Monte.

Foram quase dois meses de negociações intensas. De um lado, advogados constituídos pelos executivos da Camargo Corrêa. De outro, procuradores da República e delegados da Polícia Federal que compõem a força-tarefa da Lava Jato.

Os dois deverão permanecer na Custódia da PF em Curitiba por mais 15 dias, pelo menos. Uma das exigências da força tarefa é que os alvos da Lava Jato completem quatro meses confinados, a contar da data da prisão, que ocorreu no dia 14 de novembro de 2014, quando foi deflagrada a Operação Juízo Final, sétima fase da Lava Jato que fez ruir o poderoso braço econômico do cartel.

Ambos são réus por corrupção ativa, formação de organização criminosa e lavagem de dinheiro. Nas próximas duas semanas deverão realizar de 4 a 5 depoimentos em regime de delação.

Um terceiro dirigente da Camargo Corrêa, João Ricardo Auller, presidente do Conselho de Administração, também está preso na PF pela mesma acusação. Mas ele ficou de fora do acordo com a força tarefa.

Não foi uma negociação tranquila com os executivos da Camargo Corrêa. Ao contrário, tensas reuniões marcaram a elaboração do acordo. Durante cerca de dois meses as propostas e condições dos dois lados se arrastaram.

Há cerca de 10 dias o diálogo foi cortado e o pacto caminhou para o fracasso. Um ponto que fez emperrar por largo período o debate é relativo a desvios em outras estatais. Os executivos relutam em apontar situações relativas a contratos com outras estatais. A força tarefa, então, advertiu que iria interromper a negociação. Mas logo os entendimentos foram retomados.

Outros 13 personagens do escândalo já firmaram acordo de colaboração, entre eles o ex-diretor de Abastecimento da estatal, Paulo Roberto Costa, o doleiro Alberto Youssef, executivos que atuaram pela empreiteira Toyo Setal e o engenheiro Shinko Nakandakari, que declarou ter levado “dinheiro em espécie” para o ex-diretor de Serviços da Petrobrás Renato Duque.

Fausto Macedo

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