Eu já escutei muita coisa sem sentido ultimamente, mas a afirmação do chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, que a ida do economista Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda é uma “adesão ao programa histórico” do PT no governo é algo que beira o ridículo. Na verdade, é justamente o contrário. O governo novo de ideias novas parece que não sabe muito bem o que fazer e foi atrás de um economista brilhante para desfazer a “Nova Matriz Econômica”.
Por mais que o PT negue, não há como fugir de três constatações.
Primeiro, o segundo governo Dilma tomará medidas que a presidente acusava que os seus adversários tomariam. A presidente que sempre defendeu crédito subsidiado de bancos públicos e os subsídios do PSI agora promete controlar os bancos públicos e, pasmem, controlar o crescimento da despes, o que significa controlar crescimento dos gastos sociais. Se isso não for estelionato eleitoral nada mais será estelionato eleitoral.
Segundo, causa surpresa que depois de doze anos no governo, o PT não tenha um economista para “chamar de seu” e teve que recrutar um excelente economista cujas ideias parecem muito com as dos candidatos de oposição. Como falou o colunista da Folha Josias Souza: “Após passar a campanha dizendo que seu governo era Flamengo, seria bom se explicasse por que foi buscar seu auxiliar econômico na arquibancada do Vasco.”
Se Marina ou Aécio tivessem mencionado o nome de Joaquim Levy na campanha, o PT teria prontamente lembrado que o economista tem uma formação ortodoxa e que era diretor de um banco e, logo, poderia tentar tirar a comida da mesa dos mais pobres. A presidenta se curvou à realidade e foi atrás de um excelente economista de um banco privado..
Terceiro, apesar da nomeação de nomes bons para o governo que compartilham do diagnóstico que Mantega e Arno fizeram tolices com as contas fiscais, ainda é muito cedo para sabermos o grau real de autonomia da nova equipe econômica. É difícil acreditar que a presidente Dilma tenha proibido a economista Dilma de dar “pitacos” na condução da política econômica. Teremos que esperar pela prova do pudim. Se houve de fato uma mudança tão radical da presidente, não me assustaria em ver a presidente pedindo apoio do PSDB e do DEM para as medidas de ajustes necessárias (posso falar impopulares?) para o crescimento do Brasil.
Os meus amigos do PT por várias vezes alertaram que a eleição era uma disputa entre aqueles que defendiam as propostas do sistema financeiro contra aqueles que defendiam as politicas sociais. Na verdade, como eu e outros falamos diversas vezes, a disputa era em relação aos meios para se promover crescimento com redução da pobreza e desigualdades e não em relação aos objetivos.
O chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, pode falar o que quiser para aceitar o estelionato eleitoral. Pode até falar que Joaquim Levy sempre foi do PT ou que o Bradesco é um banco quase público porque tem o “B” do Banco do Brasil. Mas o mundo não é quadrado e, felizmente, a presidente está, ainda com uma certa timidez, pedindo ajuda a quem pensa diferente dos economistas do seu partido. Ainda bem!
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