"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

novembro 12, 2014

"GUVERNU NOVU" DÚVIDAS NOVAS OU : O tamanho do problema – 2

Nesta última terça-feira tivemos dois fatos que mostram muito bem o tamanho da encrenca do governo com uma ala do PT e a dificuldade de sinalizar de forma clara como recuperará o superávit primário.

O primeiro grande fato desta terça-feira foi a forma que se deu a saída da ministra Marta Suplicy do ministério da cultura que, na sua carta de demissão, falou de forma muito clara que a presidente Dilma não pode mais continuar errando na escolha de sua equipe econômica e que deve deixar de ser a ministra da fazenda. A senadora Marta Suplicy falou que:

“Todos nós, brasileiros, desejamos, neste momento, que a senhora seja iluminada ao escolher sua nova equipe de trabalho, a começar por uma equipe econômica independente, experiente e comprovada, que resgate a confiança e credibilidade ao seu governo e que, acima de tudo, esteja comprometida com uma nova agenda de estabilidade e crescimento para o nosso país. Isto é o que hoje o Brasil, ansiosamente, aguarda e espera.”

Este trecho da carta de demissão mostra muito bem a pressão que parte do PT e o próprio presidente Lula estão fazendo na presidente. A presidente Dilma agora corre o risco de tomar medidas duras que, para o PT, seria uma situação de win-win. Se houver um forte ajuste e o crescimento voltar ainda no final do governo Dilma, o PT pode ser competitivo em 2018 com ou sem Lula.

Mas se o ajuste vier e o crescimento não chegar tão rápido, o PT poderá ainda sacrificar a presidente Dilma acusando-a de medidas duras contra as bandeiras históricas do partido e que, com Lula (depois de quatro anos de ajuste), o partido iria resgatar os seus compromissos históricos. Dilma sairia odiada pelo povo, que não gosta de ajuste, mas sim de crescimento e não dá bolas para causalidade. Mas uma Dilma reformista mesmo com baixo crescimento poderia salvar o próximo governo, quem quer que seja o presidente pós-Dilma. Mas sem ajuste algum, não há cenário positivo para o PT, em 2018.

O segundo fato inusitado desta terça feira foi o pronunciamento na comissão mista de orçamento da ministra do planejamento Miriam Belchior. 
Na ultima semana, a presidente da República e o seu futuro ex-minstro da fazenda falaram que o governo teria que adotar medidas de austeridade e até citaram as medidas preferidas do economista Nelson Barbosa: 
corte do seguro desemprego e abono salarial, reforma do sistema de pensões, controle do auxilio doença e redução dos subsídios financeiros (aumento da TJLP).

Mas logo hoje que o governo mandou um projeto maluco (veja minha análise desta quarta-feira no Estado de São Paulo e minha entrevista à rádio Jovem Pan) que é um cheque em branco para descontar mais de R$ 100 bilhões da meta do primário e que, assim, permite que o setor público tenha um déficit primário e o chame de superávit, a ministra do planejamento Miriam Belchior teve a coragem de dizer no Congresso que a situação fiscal do Brasil é confortável. Acho que de fato é “muito confortável” em relação ao Brasil da década de 1980.

Se é confortável, porque então promover o estelionato eleitoral que o governo já vem anunciando antes mesmo da nomeação do novo ministro e da nova (ou velha) equipe econômica? se é confortável porque o governo pediu aumento dos descontos para cumprir a meta reduzida de 1,9% do PIB?

Ademais, o governo continua cometendo os mesmo erros e agora insiste em trabalhar com uma expectativa de crescimento da economia no próximo ano que é três vezes superior (3%) à expectativa de crescimento do mercado (1% com viés de baixa). Ao invés de começar a desarmar a bomba relógio fiscal, ainda há pessoas no governo que acreditam que “a fada madrinha da cinderela” resolverá nossos problemas com um feitiço para aumentar a confiança dos empresários.

Acho que as mudanças na área econômica precisam acontecer rapidamente e não apenas no ministério da fazenda, mas também no do planejamento. Até a senadora do PT Marta Suplicy sabe disso. Mas será que a presidente reconhece essa necessidade? governo novo, dúvidas novas.

Recebido do : 
 Blog do Mansueto Almeida

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