Nem mesmo a alta de quase 10% do dólar – que poderia impulsionar as exportações e frear os gastos – fez com que o Brasil não registrasse o pior rombo nas contas externas em setembro. Muito pelo contrário. O déficit cresceu nada menos que 186% em relação ao mesmo período do ano passado.
O resultado de todas as trocas de serviços e comércio com o restante do mundo ficou negativo em US$ 7,9 bilhões:
o maior desde 1947, quando o BC começou a registrar os dados.
O rombo acumulado nos últimos 12 meses representa 3,7% do Produto Interno Bruto (PIB). É a pior relação desde fevereiro de 2002
O déficit de setembro veio muito acima do previsto pelo BC. A aposta da autarquia era de um resultado negativo de US$ 6,7 bilhões. Essa disparada do rombo das contas externas foi provocada pelo déficit da balança comercial em setembro de US$ 940 milhões. O país ainda gastou US$ 4,7 bilhões em serviços. Praticamente a metade disso é de gastos com viagens internacionais.
Apesar do dólar mais caro, o brasileiro bateu novamente um recorde de despesas em viagens ao exterior. Só em setembro, o turista deixou US$ 2,4 bilhões lá fora: nunca o Banco Central registrou uma gastança desse tamanho nesse mês. É ainda o segundo maior gasto para qualquer mês. Só perde para julho, período de férias escolares.
— Houve uma redução da corrente de comércio tanto das exportações quanto das importações. Agora, em setembro, houve queda maior das exportações. A gente pode atribuir isso a perda de preços de itens importantes da nossa pauta — explicou o chefe do departamento econômico do BC, Túlio Maciel.
No ano, as chamadas transações correntes acumulam um rombo de US$ 62 bilhões. É outro recorde. Em outubro, deve ser registrado um novo déficit de 6,6 bilhões, segundo a projeção do BC. Mesmo com a sequência de dados negativos, o Banco Central repete que não há preocupação em relação à situação das contas externas brasileiras.
— O fundamental aqui é olhar as condições de financiamento. E essas condições estão confortáveis — garantiu Maciel.
Ele refere-se aos investimentos que chegam no país.
Apesar de estar mais dependente de capitais especulativos, o Brasil recebe uma boa quantidade de recursos de boa qualidade. E em setembro, houve surpresa positiva: os investimentos estrangeiros diretos, aqueles que chegam para ampliar a capacidade de produção das fábricas, foram de US$ 4,2 bilhões.
A expectativa do BC era de uma entrada de US$ 3 bilhões.
Gabriela Valente/O Globo
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