"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

julho 09, 2014

PARA REGISTRO 3! É HORA DE MUDAR : O lado positivo do fiasco brasileiro na Copa do Mundo de 2014. Derrota pode levar a mudanças importantes no futebol e na política

O Brasil está prestes a mostrar ao mundo como o esporte pode influenciar o humor nacional, a política e os mercados. A devastadora derrota do país para a Alemanha nas semifinais da Copa do Mundo vai pesar bastante sobre seus líderes — e, como resultado disso, tem o potencial para se tornar algo bom para sua economia e mercados.

O placar de 7 a 1 representa uma derrota para uma nação onde o futebol é tanto uma paixão como uma obsessão, uma vergonha internacional que era não apenas improvável como impensável. É também assustadoramente similar ao que aconteceu à economia do país, que se tornou lenta e desapontadora nos últimos anos, após um período de crescimento, investimento e criação de emprego impressionantes.

No futebol como no padrão de vida, os brasileiros têm experimentado uma degradação de suas perspectivas do promissor para o altamente problemático. Tanto os jogadores como os gestores de política demoraram a compreender a magnitude da mudança. Ao tentar ajustar, eles recorreram a uma velha cartilha, mas com uma equipe que não tem como executar, sobretudo considerando o ambiente.

Há algumas justificativas mitigadoras para a má performance tanto da seleção como da economia. O capitão e o goleador estavam, ambos, indisponíveis: um suspenso devido a uma punição no jogo anterior, e o outro gravemente contundido após uma jogada brutal. A economia sofreu devido à crise financeira e suas consequências. Porém, nada dessas desculpas justificam a subsequente falta de uma reação apropriada.

Os brasileiros podem sentir que a falta de liderança de sua seleção no campeonato reflete algo maior: 
notadamente, liderança política em nível nacional. O desapontamento provavelmente ficará bastante visível em breve nos níveis de popularidade da presidente Dilma Rousseff. Com as eleições presidenciais previstas para começar em breve, o desastre do futebol brasileiro poderá perfeitamente ter um peso no sentido de frustrar a pretensão à reeleição de Dilma.

Como os mercados financeiros reagirão ainda é uma questão aberta. 
Ainda não está certo se eles irão afundar num pessimismo induzido pelo futebol. Na verdade, o oposto pode muito bem ocorrer: 
a derrota poderá levar a uma alta dos mercados, à medida que os investidores se tornarem mais otimistas quanto à possibilidade de reformas sob um novo governo, após as eleições.

Um mercado volátil, no entanto, beneficiaria apenas uma pequena minoria de brasileiros, devido à extrema desigualdade distribuição de riqueza e posses financeiras. O resto neste país apaixonado por futebol sentirá apenas dor, aquela do tipo que não é fácil esquecer ou perdoar.


Para Mohamed El-Erian, há uma impressionante similaridade entre a derrota do Brasil para a Alemanha e o desaquecimento econômico do país - Pete Marovich / Bloomberg/12-10-2013

POR MOHAMED A. EL-ERIAN*/VIA BLOOMBERG NEWS
O Globo

* Mohamed El-Erian é conselheiro-chefe de economia da Allianz. Ele é presidente do Conselho de Desenvolvimento Global do presidente Barack Obama, autor do best-seller “When Markets Colide (Quando os mercados colidem) e ex-diretor executivo da Pimco.

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