"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

maio 23, 2014

Quem conhece a oposição prefere a oposição

Os resultados da pesquisa de intenção de votos publicada ontem pelo Ibope não deixam margem a dúvidas: quem conhece as alternativas que a oposição põe à disposição do país prefere a oposição. São os ventos da mudança que sopram cada vez mais fortes no Brasil.

Quanto mais os candidatos vão ficando conhecidos, menos brasileiros mantêm-se indecisos. Quanto menos são os indecisos, mais a oposição avança. 
O total dos que pretendiam votar em branco ou anular o voto caiu de 24% para 14% entre abril e maio. Indecisos passaram de 13% para 10%. 
Neste meio tempo, o PSDB veiculou sua bateria de comerciais e seu programa eleitoral na TV. O PT fez o mesmo. 

O povo pôde comparar e parece ter feito suas escolhas.
De abril para maio, todos os principais candidatos cresceram na pesquisa do Ibope. Mas os de oposição subiram mais. Aécio Neves avançou o dobro de Dilma: subiu de 14% para 20%. A petista passou de 37% para 40%. 
Com isso, a vantagem da candidata-presidente sobre os adversários estreitou-se de 13 para 4 pontos percentuais.

Quanto mais a eleição se aproxima, também mais se solidifica nos eleitores o clamor pela mudança: 
65% dos entrevistados pelo Ibope querem que o próximo presidente mude tudo ou muita coisa no próximo governo. Neste segmento mudancista, Aécio já empata tecnicamente com Dilma, destaca O Estado de S. Paulo.

O sentimento de mudança começa a se espraiar por toda a sociedade, por todas as faixas etárias e níveis de renda, em todas as regiões do país. Entre os mais pobres, as intenções de voto em Aécio passaram de 10% para 17%. No estrato de renda acima de cinco salários mínimos, mantiveram-se no patamar de 25%.

Outro dado corrobora a constatação de que quem conhece a oposição prefere a oposição. Entre abril e maio, a taxa de rejeição à candidata-presidente manteve-se estável em 33%. A de Aécio, depois da veiculação das propagandas no rádio e na TV, caiu de 25% para 20% e a de Eduardo Campos passou de 21% para 13%.

A desaprovação ao governo Dilma é a mais alta já registrada pelo Ibope. 
Atingiu 33% e é estatisticamente igual aos 35% que consideram sua gestão ótima ou boa. Pela primeira vez desde o início do mandato, a avaliação negativa também supera a regular. No auge das manifestações de rua de um ano atrás, ruim ou péssimo somavam 31%. Ou seja, desde então o caldo para o governo só engrossou.

Ainda são poucos os que realmente estão atentos às eleições, que acontecem daqui a pouco mais de quatro meses. Segundo o Ibope, 57% dos entrevistados têm pouco ou nenhum interesse na disputa de outubro. Por enquanto.

À medida que o tempo for passando, a Copa do Mundo tiver acabado, o sentimento de frustração que provavelmente advirá em relação ao torneio e seus parcos legados manifeste-se mais forte, a população naturalmente prestará mais atenção aos candidatos e escolherá quem encarna melhor o figurino da mudança.

Entre os 27% que hoje não têm nenhum interesse na eleição, 39% classificam o governo da presidente Dilma como ruim ou péssimo – mais que o dobro dos que a avaliam positivamente neste grupo (17%). Será que, quando forem obrigados a decidir-se, mudarão de opinião? Difícil. Na outra ponta, os 14% que têm muito interesse na eleição optam preferencialmente por Aécio, com 19% das intenções – a petista tem 17%.
As pesquisas de opinião têm deixado claro que os brasileiros estão ávidos por darem novo rumo ao país, ávidos por virar a página de descaso, descalabro e desvios éticos que marca os anos recentes. A campanha que se aproxima deve respeitar este sentimento e apresentar ao eleitor alternativas realistas, e não insistir em fantasmas de quem está morrendo de medo de ver-se apeado do poder.
Este e outros textos analíticos sobre a conjuntura política e econômica estão disponíveis na página do Instituto Teotônio Vilela

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