A balança comercial voltou a registrar déficit expressivo no primeiro mês do ano (US$ 4,057 bilhões), o pior em 20 anos. Desta vez não foi a contabilização atrasada das importações de petróleo e combustíveis a principal causa do desequilíbrio. Janeiro é um mês ainda de poucos embarques de grãos (embora, excepcionalmente, tenham sido feitas exportações de soja). Mesmo assim, não fossem as chamadas commodities, as vendas brasileiras para o exterior recuariam em relação a janeiro do ano passado, no lugar de uma expansão de 0,4%.
As importações até que vêm dando sinais de desaceleração, mas não o suficiente para que os especialistas projetem recuperação expressiva do saldo da balança comercial. Para este ano, as estimativas variam de um superávit de US$ 6 bilhões a um déficit de US$ 3 bilhões, tantos são os fatores que podem impactar o comércio exterior brasileiro em 2014.
Já era esperada uma retração das exportações para a Argentina, em face da crise cambial vivida pelo país vizinho. A Argentina é tradicionalmente um dos principais parceiros comerciais do Brasil, e um acordo automotivo faz com haja uma troca considerável de veículos entre as montadoras que possuem fábricas aqui e lá. No entanto, com a economia argentina mergulhada novamente em crise, o fluxo de exportações manufaturados desabou, e em função disso é provável que o Brasil registre déficit no comércio com a Argentina este ano.
Houve incremento nas exportações para a China e os Estados Unidos, e queda nas vendas para os demais mercados. A desvalorização do real até pode vir a fortalecer as exportações, que têm sido, literalmente, a salvação da lavoura. A indústria perdeu fôlego e nem mesmo consegue acompanhar a demanda doméstica. Exportar se tornou um objetivo ainda mais difícil pra o setor.
O rápido encolhimento do superávit da balança comercial brasileira, com risco crescente de déficit, não se explica apenas pelo câmbio ou por causas externas, como tenta justificar o mantra oficial, Fosse assim, a forte desvalorização do real desde meados de 2012 já teria provocado uma reviravolta nessa tendência. Para esse resultado estão pesando também fatores domésticos que acentuaram a perda de competitividade de segmentos que antes conseguiam exportar ou concorrer com importações.
As deficiências de infraestrutura estão entre essas causas, prejudicando inclusive os setores que se mantêm competitivos, como é o caso do agronegócio. Investimentos na infraestrutura de transportes (portos e rodovias, principalmente) agora é que estão sendo destravados. Perdeu-se tempo precioso devido a preconceitos ideológicos. Há boa safra sendo colhida, e mais uma vez se prevê sérias dificuldades no escoamento.
É uma lição que custará muito caro ao país.
O Globo
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