"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

dezembro 17, 2013

NINGUÉM ESTÁ ESCRAVIZADO DE MODO MAIS DEFINITIVO QUE AQUELES QUE, SE ENGANANDO, ACREDITAM QUE SÃO LIVRES : Uma perigosa trama política


Que tal viver nos próximos anos submetido ao poder hegemônico de um grupo? E ainda, a cada eleição, estar obrigado a votar exclusivamente numa lista de candidatos feita pelos caciques desses partidos?

Lembre-se:
 quase todos os parlamentares que hoje exercem mandatos ocuparão o topo das listas de candidatos, para facilitar-lhes a reeleição.

Agora, tente imaginar o impacto político, econômico e social dessas escolhas na vida pessoal, dos filhos, dos netos e, talvez, dos bisnetos. Essa é a dimensão da manobra em curso no Congresso, cujo patrocinador mais visível atualmente é o PT, com estímulo da presidente Dilma Rousseff, do ex-presidente Lula e de al gumas seções da Ordem dos Advogados do Brasil, mas que conta com a simpatia das cúpulas de todos os grandes partidos.

A instituição do voto em lista partidária fechada — definida pelos chefes da burocracia partidária — será apresentada à sociedade como "consequência natural" de um novo modelo de financiamento de campanhas eleitorais, caso o Supremo Tribunal Federal decida tornar partidos e candidatos mais dependentes de dinheiro público.

E, no STF, quatro dos onze ministros já decidiram proibir doações de empresas e de pessoas físicas às campanhas eleitorais e ao caixa de partidos políticos. Com mais dois votos iguais, fica estabelecida a maioria. O julgamento deve ser concluído no início do próximo ano.


No Congresso prepara-se reação imediata, uma vez confirmada a tendência dos juizes. Justifica-se que não seria possível cumprir a ordem da Justiça, para fazer campanha sem doações privadas, se não houver substancial aumento do financiamento público a partidos e candidatos.

Nas duas últimas eleições foram registradas 420 mil candidaturas a vereador em 5.500 municípios. Pelas contas mais conservadoras, isso custaria ao menos R$ 4 bilhões ao Tesouro Nacional — ou seja, despesa equivalente a dois meses de Bolsa Família apenas com o preenchimento de 56.810 vagas nas Câmaras Municipais. A questão seguinte, nesse caso, é como dividir a bolada de dinheiro público entre 420 mil candidatos. Seria impossível a partilha, argumenta-se, sem a adoção do voto em lista fechada, definida pelas cúpulas dos partidos políticos.

Planeja-se apresentar o fim do financiamento privado aos partidos e candidatos, complementado pelo voto em lista fechada, como alavanca para "moralizar" a política, em resposta ao ronco das manifestações de rua contra a corrupção.


Puro engodo. 
A conexão política das empresas no Brasil ocorre no uso partidário dos fundos de pensão das empresas estatais, que têm patrimônio milionário e participam do controle acionário das 100 maiores empresas; pela reserva de um terço das vagas em conselhos de administração das companhias privadas para pessoas politicamente conectadas; e pelo acesso privilegiado ao caixa do sistema financeiro estatal —principalmente o BNDES —, que tem sido decisivo para a expansão e diversificação dos grupos empresariais dentro e fora das fronteiras nacionais.

Por trás da manobra, há coisa pior: 
a ideia de que a democracia é a mãe de todas as corrupções. 
Uma formulação rudimentar, acoplada ao oportunismo para manipulação política com objetivos pouco democráticos, numa era em que o poder é cada vez mais fácil de obter, mais difícil de utilizar e mais fácil de perder.

José Casado O Globo 

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