"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

dezembro 02, 2013

É hora de mudança



Neste fim de semana, saiu mais uma fornada de pesquisas de opinião. Seus resultados sobre intenção de votos, faltando ainda 11 meses para a disputa, importam menos do que as constatações a respeito dos anseios da população quanto a seu futuro. O recado é claro: o brasileiro quer mudança.

De acordo com pesquisa feita pelo Datafolha, publicada na edição de ontem da Folha de S.Paulo, 66% dos entrevistados querem que a "maior parte das ações do próximo presidente seja diferente" do que faz Dilma Rousseff. Apenas 28% querem um governo igual ao atual. Este sentimento já havia sido captado pelo Ibope há duas semanas. Que fatores levam a clamor tão forte?

O primeiro deles parece ser o temor quanto ao futuro. O brasileiro vê incertezas - principalmente econômicas - se apresentando no horizonte e quer para o país alguém que o conduza ao largo de tempestades, muitas delas produzidas pela própria inépcia dos atuais condutores.

Mais especificamente, o cidadão teme pela volta da inflação e pela perda do emprego. Ainda de acordo com a recente pesquisa do Datafolha, o receio quanto ao aumento dos preços e o medo da falta de trabalho cresceram muito nos últimos meses.

Entre os entrevistados, 59% acreditam que a inflação vai aumentar nos próximos meses - esse percentual era de 54% em outubro, 53% em agosto e quase metade (33%) quando Dilma assumiu. O medo do desemprego acomete 43% dos brasileiros, alta considerável em relação aos 38% anotados no levantamento de outubro e aos menos de 30% do início do governo atual.

No seu dia a dia, o brasileiro percebe que seu salário compra cada vez menos e custa a chegar ao fim do mês. Nossa inflação oficial (em torno de 6%) é alta, mas a carestia real é ainda mais aguda: preços de itens não controlados pelo governo e de serviços sobem muito mais do que a média, penalizando o assalariado.

O mercado de trabalho ainda é praticamente de pleno emprego, mas as vagas abertas são de baixa remuneração e pouca qualidade. A cada mês, as estatísticas voltam a registrar que os postos criados pagam sempre salários abaixo de dois salários mínimos. Na era Dilma, mais de um milhão de empregos acima desta faixa salarial foram extintos.

Mas o desejo de mudança não se restringe a aspectos materiais - embora saibamos que estes determinam bastante a avaliação que as pessoas fazem de sua vida. Há, sobretudo, um cansaço com o estado atual das coisas. O brasileiro parece clamar por alguém que ponha fim ao ciclo de degradação de valores que o governo do PT pôs em marcha e tenta nos convencer diuturnamente que é legítimo.

O que se sonha é, também e principalmente, com uma mudança de padrões éticos. De respeito ao interesse público, de compromisso com a superação das dificuldades do cidadão, de valorização da verdade, em lugar do culto à mentira, com tão bem resumiu o presidente Fernando Henrique Cardoso em artigo publicado ontem.

Há, portanto, um cenário econômico pouco animador e uma crise ética que há muito passou do aceitável. O PT está completando 11 anos no poder; seu ciclo chegou ao fim, exauriu-se. A hora é de iniciar uma nova etapa, uma era de mudanças, para que as conquistas obtidas até aqui não se percam; uma era em que eficiência e compromisso com os direitos dos cidadãos caminhem juntos.


ITV

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