A pretexto de defender o prefeito petista de São Paulo, Fernando Haddad, Lula atacou o antecessor dele na prefeitura, Gilberto Kassab. Vinculou-o à máfia de fiscais que desviou dos cofres municipais R$ 500 milhões em arrecadação de ISS. Fez isso um dia depois de o PSD de Kassab ter formalizado seu apoio à reeleição de Dilma Rousseff.
Lula discursava para uma plateia de prefeitos e lideranças petistas, em Santo André. A alturas tantas, criticou o modo como “uma parte dos meios de comunicação desse país” trata o PT. Disse que, por “má-fé”, a imprensa difunde inverdades sobre a gestão Haddad. Deu dois exemplos. Em ambos deixou mal Kassab, o neoaliado de Dilma.
1. “…Muitas vezes, a gente fica percebendo algumas malícias, coisas absurdas”, disse Lula, olhando para o prefeito petista. “O Fernando Haddad monta uma Controladoria. A Controladoria levanta um processo de corrupção na prefeitura. Se você não tomar cuidado, a ideia que eles estão querendo passar é a de que a corrupção aconteceu no teu governo e não no governo que você sucedeu.”
2. “…Um dia desses vi um jornal, não vou fazer merchandising deles, que tinha uma manchete tão grande assim: ‘Prefeito sabia de tudo’. E não dizia quem era o prefeito. Passava uma ideia de que era o Haddad que sabia de tudo, quando na verdade era o ex-prefeito que sabia de tudo.”
O que Lula disse, com outras palavras, foi que Dilma acaba de receber o apoio de um partido, o PSD, que tem como presidente um político que comandava na prefeitura de São Paulo uma máquina corrupta. Sabia de tudo. Mas foi preciso que Haddad criasse uma Controladoria para que a podridão viesse à tona.
“É importante que a gente fique atento”, lecionou Lula aos prefeitos petistas. “Se alguém do PT desviar um tostão, eles darão uma manchete maior do que alguém do outro lado que rouba um milhão. É importante a gente ter claro que não haverá trégua.”
Lula se absteve de dizer que, entre os personagens encrencados no escândalo do ISS paulistano, o mais graúdo é, por ora, o recém-afastado secretário de Governo de Haddad, o vereador petista Antonio Donato. O nome dele soou de ponta-cabeça em diálogos vadios captados por grampos da PF e em depoimento de um dos fiscais encalacrados.
No mesmo discurso, Lula dirigiu críticas indiretas ao presidente do STF, Joaquim Barbosa; pediu respeito à biografia dos petistas presidiários; disse que a resposta às críticas será a reeleição de Dilma Rousseff; e renovou o apoio à candidatura do ministro Alexandre Padilha (Saúde) ao governo de São Paulo.
Lula recordou que, em disputas anteriores, o PT já obteve até 35% dos votos do eleitorado de São Paulo. “Para ganhar, precisamos de 50% mais um. Esses 20% que faltam não estão no PT, no PCdoB, nos partidos de esquerda. São eleitores] paulistas que estão por aí, espalhados no Estado. Muitas vezes têm medo do PT, ainda acreditam nas coisas que a imprensa fala do PT.”
Para ampliar o seu cesto de votos, ensinou Lula, o candidato do PT precisa ser um grande compositor. Terá de compor com todo mundo. “Sua tarefa, Padilha, é ser um pouco mais amplo do que nós fomos. Procurar conversar com os partidos. Não os de esquerda, que esses já estão conosco. Mas com os partidos de centro-esquerda, de centro-direita, porque os eleitores não têm ideologia.”
Quer dizer:
conforme os parâmetros de Lula, o companheiro Padilha tem de se aliar a Deus e ao diabo. Se Gilberto Kassab, o ex-prefeito que “sabia tudo”, se dispuser a apoiá-lo, Haddad deve abraçá-lo como quem abraça um ente querido.
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