Pelo segundo mês consecutivo, a inflação acelerou no país e, embora o governo mantenha o discurso de que ela está sob controle, a alta dos preços segue preocupando. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ganhou força de agosto para setembro, passando de 0,24% para 0,35%. A leitura positiva dos números divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) é que, pela primeira vez no ano, a taxa acumulada em 12 meses — 5,86% — ficou abaixo de 6%.
A alta do dólar contribuiu para o resultado do mês, elevando os preços de matérias-primas, como o trigo. O pãozinho francês subiu 3,37% no mês passado, após aumento de 1,56% em agosto. “Hoje, compro cinco pães por R$ 2,45. Antes, chegava a levar quase o dobro pelo mesmo valor”, comparou a estudante Rafaele Gaspar, 26. A divisa norte-americana influenciou também no valor das carnes, cuja variação foi de 0,88%.
Os vilões de setembro, segundo o IBGE, foram a tangerina (25,97%) e, mais uma vez, as passagens aéreas (16,09%). “Mesmo com a empresa custeando parte das viagens, gasto em torno de R$ 2 mil por mês só com os bilhetes”, reclama o médico Renan Vinícius Oliveira, 30.
Para outubro, analistas acreditam que a tendência de alta dos preços prevaleça, com o IPCA acelerando em torno de 0,50%. “Os dados analíticos indicam que o processo inflacionário requer cuidados”, comentou o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luís Otávio de Souza Leal. O governo espera fechar 2013 com a carestia menor ou igual à do ano passado, ou seja, 5,84%, algo que só seria possível, em tese, sem aumento de combustível.
Ainda que esteja distante do centro da meta (de 4,5%), o aumento do custo de vida atual parece não incomodar o Planalto. A divulgação de ontem satisfez os ministros da Fazenda, Guido Mantega, e do Planejamento, Miriam Belchior. Ele defendeu ser preciso continuar em alerta para “impedir que a inflação volte a subir”. Ela classificou o resultado de setembro como bom e insistiu que o IPCA “não está acelerando”.
Serviços
A despeito da avaliação da ministra, o preço dos itens de vestuário, por exemplo, avançou: de 0,08% para 0,63%. O gerente executivo de Política Econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flávio Castelo Branco, lembrou que os preços dos serviços estão ainda muito resistentes. “Não dá para comemorar”, sublinhou.
O recuo da inflação no acumulado de 12 meses, sustenta o estrategista-chefe do Banco Mizuho do Brasil, Luciano Rostagno, não permite concluir que o índice se dirige para o centro da meta. “Ciente da estreita margem para absorver qualquer novo choque sobre os preços, o Banco Central deverá continuar aumentando a taxa de juros”, disse.
Em vez de comemorar a pequena queda no indicador anual, o governo deveria concentrar esforços para levar a inflação ao centro da meta, defende o economista da Fundação Getulio Vargas André Braz. O cenário atual, com o IPCA de 12 meses abaixo dos 6%, pode favorecer, segundo ele, o aumento dos combustíveis. (Colaborou Ana Carolina Dinardo)
» Peso no bolso
Custo de vida não dá alívio
aos consumidores
IPCA (em %)
Setembro 0,35
Agosto 0,24
Acumulado em 2013 3,79
Acumulado em 12 meses 5,86
Variação por grupo
em setembro (em %)
Artigos de residência 0,65
Vestuário 0,63
Habitação 0,62
Saúde e cuidados pessoais 0,46
Transportes 0,44
Despesas pessoais 0,20
Alimentação e bebidas 0,14
Educação 0,12
Comunicação -0,04
O que mais subiu (em %)
Passagens aéreas 16,09
Pão francês 3,37
Frutas 2,90
Gás de botijão 2,01
Roupas femininas 1,43
Calçados 0,58
Índice por capitais
em setembro (em %)
Brasília 0,70
Porto Alegre 0,63
Recife 0,44
Fortaleza 0,41
Rio de Janeiro 0,40
São Paulo 0,36
Goiânia 0,33
Belo Horizonte 0,30
Curitiba 0,23
Belém 0,17
Salvador 0,03
Fonte: IBGE
DIEGO AMORIM/Correio Braziliense
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