O deficit nas contas externas do país alcançou US$ 5,5 bilhões em agosto, mais que o dobro do registrado no mesmo mês do ano passado, quando atingiu US$ 2,6 bilhões, e um recorde para o mês, informou nesta terça-feira (24) o Banco Central.
Com isso, o rombo acumulado no ano já chega a US$ 58 bilhões, superando em 7% o deficit verificado em todo o ano passado, de US$ 54,2 bilhões. Trata-se de outro recorde histórico, considerando a série iniciada em 1947.
O montante verificado no mês passado é superior ao esperado pela autoridade monetária, que havia previsto saldo negativo de US$ 5,0 bilhões..
Nos últimos doze meses encerrados em agosto, o deficit chegou a US$ 80,6 bilhões, o equivalente a 3,6% do PIB (Produto Interno Bruto). Tal proporção não era alcançada desde março de 2002, de acordo com o BC.
As contas externas são analisadas a partir do saldo das transações correntes do país. Ela reflete as operações comerciais e financeiras do Brasil com outros países, incluindo importação e exportação de bens, gastos e receitas com viagens internacionais, remessas de dividendos de empresas, ganhos e pagamentos de juros.
A previsão do BC para o ano é que o deficit chegue a US$ 75 bilhões, um salto de quase 40% frente ao registrado em 2012.
INVESTIMENTOS ESTRANGEIROS
Apenas parte dessa diferença deve ser "coberta" pela entrada de investimentos estrangeiros diretos (IED), que indicam aportes produtivos no país. A expectativa da autoridade monetária é que essa conta alcance US$ 60 bilhões em 2013, abaixo do patamar alcançado no ano passado.
A estimativa foi revisada para baixo este mês. Antes era de US$ 65 bilhões.
Segundo Tulio Maciel, chefe do departamento econômico do BC, o cenário não preocupa a autoridade monetária.
"A parte que segue sendo financiada pelo IED ainda é muito significativa, cerca de 80%. É um quadro positivo e confortável em termos de financiamento para transações correntes", afirmou.
Em agosto, houve ingresso de US$ 3,8 bilhões em IED, redução de 25% frente ao ano passado. Apesar da queda, o resultado foi levemente acima do esperado pela autoridade monetária, cuja previsão era de US$ 3,5 bilhões para o mês.
No acumulado do ano, a conta chega a US$ 39 bilhões.
Segundo Maciel, a revisão para baixo do IED para o ano foi motivada pelos últimos meses, quando houve fluxo mais fraco do que o esperado. O diretor do BC credita o comportamento ao arrefecimento da economia mundial
"De uma maneira global os fluxos de IED no mundo foram menores do que o ano passado. Os países de uma forma geral receberam menos. Nesse sentido, o Brasil permaneceu bem situado com um patamar elevado", disse.
PRINCIPAIS FATORES
O resultado negativo das contas externas no ano pode ser explicado em grande parte pelo baixo desempenho da balança comercial, que mede a diferença entre as importações e exportações do país.
"A diferença de deficit no balanço de pagamentos é de US$ 26 bilhões [no acumulado do ano frente ao mesmo período de 2012]. Destes, US$ 17 bilhões decorrem do saldo da balança comercial", afirmou Maciel.
Entre janeiro e agosto deste ano, a balança apresentou deficit de US$ 3,8 bilhões contra superavit de US$ 13,1 bilhões registrado no mesmo período de 2012.
O BC estima agora que haverá saldo positivo no fim do ano de US$ 2 bilhões, frente a estimativa anterior de US$ 7 bilhões. A previsão, porém, ainda encontra divergência no mercado. A AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil) projeta deficit de US$ 2 bilhões para 2013.
O rombo nas contas externas foi impacto ainda pela conta de serviços, que contabiliza, por exemplo, as despesas dos brasileiros no exterior. Ela apresentou em agosto deficit de US$ 4,2 bilhões, 41,6% acima do verificado no mesmo mês de 2012.
Segundo o BC, o deficit nas contas externas é natural para um país como o Brasil, que precisa de investimentos.
"É sempre bom relembrar que deficit em transações correntes é característica de países emergentes, representa absorção de poupança externa e contribui para investimento. Nesse ponto, esse deficit é positivo. O Brasil se enquadra nessa característica, precisa de investimento", afirmou Maciel.
DÍVIDA EXTERNA
No mês passado, a dívida externa brasileira chegou a US$ 311,5 bilhões, redução de US$ 6,6 bilhões frente a julho deste ano.
O estoque líquido de reservas internacionais do país teve decréscimo de US$ 854 milhões em agosto em relação ao mês anterior, chegando a US$ 372,8 bilhões.
Folha
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