"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

julho 17, 2013

O JEITO PETRALHA DE "GUVERNÁ" : Desordem ou ditadura

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Os analistas do governo ainda não se deram conta de que os protestos contra Dilma e seu governo começaram em 18 de maio passado, quando houve a corrida para sacar o dízimo pago pelo governo aos participantes do Bolsa Família. Naquele momento, uma informação transmitida boca a boca, fone a fone ou mail a mail transformou o que seria um saque periódico numa corrida à Caixa Econômica. 

Sem articulação, sem provocação, sem outras intenções que não as de garantir seus recursos essenciais, a população enviava um duro recado aos gestores de seus recursos e de suas esperanças. 

"Nós desconfiamos de vocês. Nós não estamos acreditando em vocês."

Numa liberdade histórica e traçando um paralelismo, pode ser lembrado outro dia 18, esse de 1799.018 de Brumário, de Napoleão Bonaparte. Passados 10 anos do início da Revolução Francesa, a França vinha sendo governada por um colegiado de líderes — o Diretório—e o país sofria com revoltas internas, além de uma ameaça real de invasão por parte de outros países europeus. 


018 de Brumário foi um golpe de Estado que representou o fim da Revolução Francesa e a ascensão de Napoleão Bonaparte ao poder.

Duas semanas depois do 18 de maio de 2013, começam os protestos populares, tão espontâneos como os daquele dia, porém muito mais organizados, pois, a internet permite marcar dia, hora e local e disseminar palavras de ordem multiusuárias que não apenas "saquem seu dinheiro".

O que estava contido nas mentes e gargantas ganhou ação e voz. 
Não era mais o público-alvo do Bolsa Família, mas a família brasileira que saía às ruas para mandar seu recado. E o recado era como aquele dado à luta pela anistia, no fim dos anos 1970: 
"Amplo, geral e irrestrito". 

Esse recado, assim como o anterior, era dirigido à presidente e a atingia naquilo que ela mais preza (ou diz prezar, pois foi assim "apresentada" pelo seu criador): 
a competência como gestora.

A população não aceita o aumento de custo de passagens por não poder pagar esse acréscimo, 
por considerar que os serviços não valem o que custam, 
por não acreditar que a carestia, acompanhada todos os dias nos supermercados, 
tem relação com os índices de inflação divulgados, 
por não acreditar que o dinheiro público não está sendo usado para construir estádios e obras para as Copas de futebol e as Olimpíadas 
e por acreditar que esses recursos poderiam ser mais bem aplicados em outros setores. 


A população também não acredita, porque não consegue ver e sentir, nas melhorias anunciadas para os diversos setores da sua vida cotidiana.

Foi inculcado na população que a presidente é a mãe do/no governo e, desse modo, existe uma sensação generalizada d.e que ela é responsável pelos seus "filhos" ministros e respectivos atos. Dilma deve estar envergonhada das mentiras do filho Mantega, sobre aumento do PIB e diminuição da inflação; deve se sentir incomodada com os arroubos de criatividade (constituinte e plebiscito) do "o ministro Mercadante, que não conseguem empolgar a realidade; e com a reação ao projeto Mais Médicos, que, sem duvida alguma, deveria ter sido batizado como Mais Saúde e recebido outra semeadura. 


Assim, o governo e seu ícone, a presidente, eram atacados na característica mais endeusada: 
a capacidade de gerenciar. 

Não foi por outra razao que os índices de popularidade de Dilma e de confiança no governo desabaram. A população passou a desacreditar, e a crise de credibilidade que se desenhou em 18 de maio se concretizava em junho.

Mas ela não vinha só em palavras e àtos de protestos. Veio acompanhada de violência e desobediência civil. Enfrentamentos, choques, lutas, badernas e saques. Bloqueios de ruas, avenidas e, logo a seguir, de estradas. O Dia Nacional de Protesto, convocado por entidades sindicais e outras instituições formais, mesmo não trazendo muita gente às ruas, ajudou a evidenciar o descontentamento generalizado.

Os protestos, passeatas e bloqueios têm provocado incômodos tanto ao governo como às comunidades, embora o apoiamento dessas tenha sido bastante contínuo e expressivo, mas o que tem assustado a todos é a violência e a possibilidade de baderna, o que tem conduzido a uma sensação de desgoverno ou de sem govemo.

Não é preciso ser uma pitonisa experiente para saber que os protestos arrefeceram, mas aquilo que lhes deu motivo continua a existir. Os políticos não conseguem dar uma resposta satisfatória às exigências das ruas, embora tentem enganá-las, fazendo de conta que votam o que foi demandado. Os govemos, idem, fabricando falsas ações e propondo o céu logo adiante, quando as reclamações são terrenas, do aqui e agora. 


Com essa inflação, essa saúde, essa educação e esse transporte, ninguém sabe quem e como se sobreviverá em curto prazo, e o desespero nunca foi conselheiro para temperança. 
Nessa toada, a estrada se bifurca perigosamente à frente.
 Uma vertente leva à desordem e outra à ditadura. 

Sylvain Levy Correio Braziliense 

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