"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

maio 22, 2013

Gastando por conta do futuro

 
O governo federal acaba de inven­tar mais um tru­que para man­ter a gastança e continuar fe­chando suas contas, no fim do ano, como se houvesse cumpri­do a meta fiscal ou, pelo me­nos, manejado com alguma prudência as finanças públi­cas.

Para isso, a presidente Dil­ma Rousseff decidiu antecipar, em nova manobra contábil, o recebimento de recursos devi­dos à União pela Itaipu Bina­cional - cerca de R$ 15 bilhões até 1° de maio.

O prazo previsto para a liqui­dação dos compromissos de Itaipu terminará em 2023. Com isso, cria-se mais uma hi­poteca sobre a arrecadação dos próximos dois mandatos presidenciais e do começo do terceiro. Eis aí mais um instru­tivo exemplo de irresponsabili­dade fiscal.
O Tesouro já havia recorrido à antecipação de dividendos de estatais para tapar buracos. Es­se foi um dos artifícios empre­gados em 2012 para maquiar a execução do orçamento.

Na prática, o Tesouro terá de se endividar, por meio da emis­são de papéis, para conseguir neste ano aquele dinheiro. O en­dividamento, autorizado pela Medida Provisória (MP) n.° 615, de 17 de maio, será “em favor da Conta de Desenvolvimento Energético”. Os valores recebi­dos depois, quando a Itaipu li­quidar efetivamente seus com­promissos, “serão destinados exclusivamente ao pagamento da dívida pública federal”.

Para autorizar essa manobra, a nova MP alterou a Lei n.° 12.783, de 11 de janeiro deste ano, relativa às concessões de serviços de geração, transmis­são e distribuição de energia elétrica e à redução das tarifas de eletricidade.
Com a antecipação do dinhei­ro devido até 2023 pela Itaipu Binacional, o governo terá re­cursos adicionais para enfren­tar os custos da redução das contas de energia.

Incluída na receita, essa ver­ba será contada 110 cálculo do superávit primário, isto é, da economia feita anualmente pa­ra o pagamento de juros devi­dos pelo Tesouro. Facilitará, portanto, o cumprimento da meta fiscal, ampliando o espa­ço para a manutenção das des­pesas federais. 
 
Será mais fácil cumprir a meta sem comprimir os gastos ou sem aumentar a re­ceita efetiva, em parte prejudi­cada pela concessão de estímu­los tributários.

Apesar da emissão de títulos, a dívida líquida poderá ficar inalterada, porque os papéis te­rão como contrapartida os cré­ditos a receber da Itaipu. Mas a dívida bruta aumentará e o cus­to de sua rolagem poderá subir, se as condições do mercado fi­nanceiro se alterarem.

Isso dependerá tanto da polí­tica oficial de juros como do hu­mor dos financiadores. Embo­ra os ministros e outros funcio­nários insistam em falar quase exclusivamente sobre a dívida líquida, o mercado leva em con­ta, em suas avaliações, também a dívida bruta.
 
 É assim em todo o mundo e nenhum operador do sistema financeiro tem um bom motivo para agir de forma diferente em relação ao gover­no brasileiro.
 
O Estado de S. Paulo

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