"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

novembro 08, 2012

Inflação continua se equilibrando no fio da navalha

Análise:
O choque na oferta de alimentos, que entrou pela porta de uma grande seca nos Estados Unidos e se espalhou por mercados cerealistas locais, parece ter esgotado a capacidade de empurrar a inflação para cima. Nem por isso o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que é base para o sistema de metas de inflação, deixará de sofrer o impacto de altas de outros preços.

É certo que o índice continuará a evoluir no fio da navalha, embora sem ameaça de superar o teto da meta.

Vilões, mais uma vez, da elevação do IPCA em outubro, os alimentos já deram o que tinham de dar para desviar o índice da rota desejada para o centro da meta de inflação. Também divulgado ontem, o Índice Geral de Preços (IGP-DI), da Fundação Getúlio Vargas, apontou deflação, causada principalmente pelo recuo dos preços agrícolas no Índice de Preços no Atacado, principal elemento da composição do IGP.

É uma indicação segura de que, nos próximos meses, os alimentos darão folga aos índices ao consumidor.

Com a saída de cena dos alimentos, porém, outros grupos de preços devem manter a inflação sob pressão. Em outubro, houve altas em seis dos nove grupos do IPCA, com destaque para vestuário, que subiu além do previsto, mesmo para o período de mudança de coleções e consequente alta nos preços.

Também os preços dos veículos voltaram a subir.

Todas as medidas de núcleo de inflação continuaram avançando em relação a setembro. E, mesmo quando se exclui o item alimentos, o índice de difusão de altas, tomado o conjunto de preços do IPCA, manteve-se em torno de 65%. O fato de a difusão das altas ter se estabilizado não indica despreocupação.

Ao contrário, mostra que as pressões atingem quase dois terços dos preços.

A difusão das altas nos preços, contudo, não pode ser tomada como indicativo de descontrole nos índices de inflação. Nos próximos meses, os analistas preveem alívio nas pressões em alimentos e vestuário e novas altas em itens dos grupos habitação, transportes e despesas pessoais.

Tudo bem medido, as projeções apontam para elevações mensais do IPCA entre 0,5% e 0,6%, nos dois meses que faltam para fechar o ano. Isso significa que continuará a subir, mas não a ponto de escapar das vizinhanças de 5,5% - ponto equidistante entre o centro e o teto da meta de inflação.

José Paulo Kupfer
O Estado de S. Paulo

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