O ano chegou à metade e, por ora, nem sinal do temido "tsunami monetário". De fato, os dados sobre o fluxo cambial acenam que o risco maior é mesmo de uma "ressaca".
O mês de junho terminou com um fluxo positivo de apenas US$ 318 milhões, reflexo de uma entrada financeira de US$ 1,280 bilhão e uma saída comercial de US$ 962 milhões.
Esse déficit na conta comercial é que chama atenção, pois foi o pior desde setembro de 2010, quando o déficit nessa conta ficou em US$ 2,989 bilhões.
E as perspectivas não são nada animadoras na avaliação de economistas consultados pelo Valor, para quem a indefinição do governo com relação ao câmbio é um dos principais componentes para a falta de vigor da conta comercial.
"O quadro está ficando preocupante. A esperança estava no segundo semestre, mas está com cara de que esse ano já foi", diz o diretor-executivo da NGO Corretora, Sidnei Nehme.
As medidas que o governo tem tomado até agora são a "conta-gotas", disse o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro.
Segundo o especialista, o governo precisa pensar "mais amplo" e impulsionar investimentos em infraestrutura para acabar com os "gargalos" que têm ficado mais evidentes no comércio exterior brasileiro em meio à crise internacional.
Augusto de Castro chama atenção para o prejuízo que o "sobe e desce" do dólar causa ao planejamento das empresas.
"Fala-se que o dólar a R$ 2 é bom, mas o exportador tem receio de fechar nesse valor porque, de repente, na hora de receber os recursos, o dólar vai estar mais baixo, e aí ele acaba recebendo menos", acrescentou.
A preocupação com a redução nos ingressos via conta comercial já levou o BC a rever uma medida adotada em março, que restringia o financiamento a exportadores.
Desde a semana passada, instituições financeiras, além das próprias importadoras, podem adiantar pagamentos aos exportadores por meio de uma linha de crédito conhecida como Pagamento Antecipado (PA).
Em junho, os financiamentos por esse mecanismo totalizaram US$ 2,637 bilhões, um tombo de 54% ante o pico do ano em abril (US$ 5,731 bilhões).
Apesar de o BC ter facilitado o fluxo de recursos via PA, o prazo dos financiamentos segue limitado a 360 dias. Acima disso, o montante está sujeito a 6% de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).
De acordo com Nehme, da NGO, essa mudança nas regras das captações via PA não deve surtir o efeito esperado de aumento de fluxo. A questão não está no acesso das empresas ao crédito, mas sim no prazo.
Uma das saídas, portanto, poderia ser a extensão da isenção do IOF a prazos maiores que um ano.
Mas mesmo que essa revisão de prazo ocorra, o economista integrante da Comissão de Análise de Política Econômica do Conselho Federal de Economia Roberto Piscitelli mostra ceticismo quanto à eficácia de tal ação para impulsionar as exportações.
"Seria mais uma medida de pouca abrangência, com impacto muito limitado", disse.
Segundo Piscitelli, para melhorar esse quadro é essencial que o governo diversifique a composição de sua pauta de exportação e aumente a parcela de produtos com maior valor agregado.
Dos US$ 19,354 bilhões exportados em junho, 61% corresponderam a produtos básicos ou semifaturados, ou seja, de menor valor agregado.
Ainda de acordo com Nehme, a tendência para o fluxo cambial é ficar negativo. Olhando a diferença entre câmbio contratado e físico, existem US$ 15 bilhões em importações a pagar e faltam embarcar US$ 8,5 bilhões em exportações já liquidadas.
Conforme o fluxo tende para o vermelho e a posição dos bancos no mercado à vista fica mais estreita, cresce a chance de o BC ter de vender dólares.
As instituições financeiras fecharam junho com um estoque comprado de US$ 2,287 bilhões, contra US$ 2,686 bilhões em maio. A queda chama atenção, pois acontece apesar de junho ter fechado com fluxo positivo e o BC não ter feito compras no mercado à vista.
No acumulado do ano, o fluxo é positivo em US$ 22,944 bilhões, queda de 42% sobre igual período de 2011.
E a conta comercial responde por 88% dessa "sobra" de moeda americana.
Eduardo Campos e José de Castro Valor Econômico
O mês de junho terminou com um fluxo positivo de apenas US$ 318 milhões, reflexo de uma entrada financeira de US$ 1,280 bilhão e uma saída comercial de US$ 962 milhões.
Esse déficit na conta comercial é que chama atenção, pois foi o pior desde setembro de 2010, quando o déficit nessa conta ficou em US$ 2,989 bilhões.
E as perspectivas não são nada animadoras na avaliação de economistas consultados pelo Valor, para quem a indefinição do governo com relação ao câmbio é um dos principais componentes para a falta de vigor da conta comercial.
"O quadro está ficando preocupante. A esperança estava no segundo semestre, mas está com cara de que esse ano já foi", diz o diretor-executivo da NGO Corretora, Sidnei Nehme.
As medidas que o governo tem tomado até agora são a "conta-gotas", disse o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro.
Segundo o especialista, o governo precisa pensar "mais amplo" e impulsionar investimentos em infraestrutura para acabar com os "gargalos" que têm ficado mais evidentes no comércio exterior brasileiro em meio à crise internacional.
Augusto de Castro chama atenção para o prejuízo que o "sobe e desce" do dólar causa ao planejamento das empresas.
"Fala-se que o dólar a R$ 2 é bom, mas o exportador tem receio de fechar nesse valor porque, de repente, na hora de receber os recursos, o dólar vai estar mais baixo, e aí ele acaba recebendo menos", acrescentou.
A preocupação com a redução nos ingressos via conta comercial já levou o BC a rever uma medida adotada em março, que restringia o financiamento a exportadores.
Desde a semana passada, instituições financeiras, além das próprias importadoras, podem adiantar pagamentos aos exportadores por meio de uma linha de crédito conhecida como Pagamento Antecipado (PA).
Em junho, os financiamentos por esse mecanismo totalizaram US$ 2,637 bilhões, um tombo de 54% ante o pico do ano em abril (US$ 5,731 bilhões).
Apesar de o BC ter facilitado o fluxo de recursos via PA, o prazo dos financiamentos segue limitado a 360 dias. Acima disso, o montante está sujeito a 6% de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).
De acordo com Nehme, da NGO, essa mudança nas regras das captações via PA não deve surtir o efeito esperado de aumento de fluxo. A questão não está no acesso das empresas ao crédito, mas sim no prazo.
Uma das saídas, portanto, poderia ser a extensão da isenção do IOF a prazos maiores que um ano.
Mas mesmo que essa revisão de prazo ocorra, o economista integrante da Comissão de Análise de Política Econômica do Conselho Federal de Economia Roberto Piscitelli mostra ceticismo quanto à eficácia de tal ação para impulsionar as exportações.
"Seria mais uma medida de pouca abrangência, com impacto muito limitado", disse.
Segundo Piscitelli, para melhorar esse quadro é essencial que o governo diversifique a composição de sua pauta de exportação e aumente a parcela de produtos com maior valor agregado.
Dos US$ 19,354 bilhões exportados em junho, 61% corresponderam a produtos básicos ou semifaturados, ou seja, de menor valor agregado.
Ainda de acordo com Nehme, a tendência para o fluxo cambial é ficar negativo. Olhando a diferença entre câmbio contratado e físico, existem US$ 15 bilhões em importações a pagar e faltam embarcar US$ 8,5 bilhões em exportações já liquidadas.
Conforme o fluxo tende para o vermelho e a posição dos bancos no mercado à vista fica mais estreita, cresce a chance de o BC ter de vender dólares.
As instituições financeiras fecharam junho com um estoque comprado de US$ 2,287 bilhões, contra US$ 2,686 bilhões em maio. A queda chama atenção, pois acontece apesar de junho ter fechado com fluxo positivo e o BC não ter feito compras no mercado à vista.
No acumulado do ano, o fluxo é positivo em US$ 22,944 bilhões, queda de 42% sobre igual período de 2011.
E a conta comercial responde por 88% dessa "sobra" de moeda americana.
Eduardo Campos e José de Castro Valor Econômico
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