"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

março 09, 2012

NO DESGOVERNO DA MAMULENGA O BRASIL SEGUE "MUDANDO" E... BATEU O PÂNICO

O governo teve uma semana de amargar.
Colheu péssimo resultado na economia no primeiro ano de Dilma Rousseff e viu sua base de apoio político balançar no Congresso. Uma coisa pode estar ligada à outra, numa administração que funciona à base de fisiologismo.

A bonança econômica vem servindo para sustentar os índices de popularidade da presidente. Mais dinheiro no bolso, consumo em alta, desemprego em níveis historicamente baixos são combustível suficiente para alimentar a simpatia.
O problema surge com a perspectiva de que este mar calmo se revolte.


Com a oficialização do pior PIB desde 2003 - excetuando-se a recessão de 2009 - e a constatação de que o governo federal tem muita dificuldade para encontrar o que tonifique a economia sem anabolizar a inflação, o alicerce foi abalado e a base política de Dilma reagiu de imediato:
dobrou seu preço.


Como o principal capital de Dilma é a economia, o enfraquecimento desta redunda no enfraquecimento da presidente. Talvez isso explique a desenvoltura com que a equipe econômica petista tenha se movimentado nos últimos dias para indicar que tem armas para reanimar o paciente.
Foi tiro para todo lado.


Ao longo da semana, falou-se, na Fazenda, num "arsenal infinito" para deter a queda do dólar, em medidas tributárias a granel, em desoneração de salários, em mais crédito e em menor juro.
Tudo um varejo sem fim.

Não se vê ação orgânica e estruturada, com risco de, lá na frente, a fogueira da inflação receber uma lufada de gasolina.


Bateu o pânico, e não só entre os assessores econômicos de Dilma.
Também os articuladores políticos fraquejaram.

O governo viu-se derrotado numa votação emblemática:
a recondução do principal patrocinador da menina dos olhos da presidente, o trem-bala, ao cargo de diretor-geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).


Bernardo Figueiredo teve contra ele um devastador relatório do TCU apontando uma série de irregularidades na agência. "Boa parte da malha ferroviária nacional está absolutamente abandonada por descumprimento de contrato por parte das concessionárias que assumiram as ferrovias na década de 1990", mostrou o Valor Econômico na quarta-feira.

Figueiredo e ANTT são sintoma de um mal maior:
a ocupação desbragada da máquina pelos interesses político-partidários, motor do fisiologismo.

As agências reguladoras são o exemplo mais bem acabado deste loteamento:
PT e PMDB predominam nos cargos de comando, mas há espaço também para as mais esdrúxulas indicações.


Qualquer curto-circuito neste jogo de baixos interesses é capaz de detonar labaredas, como as que derrotaram Dilma no Senado nesta semana e as que também a obrigaram a adiar a votação do Código Florestal.
Sem a barganha, o descontrole avulta.


"A conturbação tem causa mais profunda.
Decorre de uma situação de desequilíbrio político, institucional e comportamental.
O Executivo se agigantou, o Legislativo se apequenou", resume Dora Kramer
n'O Estado de S.Paulo.
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhUHNGSHUf220euMqaLDTnNxaV-komxMf0GgMW2t833F9GWz0dUi-k3rI-SIeNx-8tRPDOqRd6jonXIk5fkEaYvhPpRffHCQF69oMAeTKIRhREdgdhSo6FBXpDUwAgIzfzl_EcaPiFOZWoE/s1600/charge_dilma_base_aliada.jpg
Na era petista, a coalizão de poder funciona na base da compra e venda de apoios. Sobre esta plataforma instável, a presidente sempre estará sujeita a intempéries. O momento vivido pelo Palácio do Planalto é "tenso", admite Gilberto Carvalho.

É o preço que Dilma paga por ter topado entrar no jogo sujo da fisiologia que Lula cevou e expandiu. Nas crises políticas que atravessou no ano passado, a presidente apelou para o padrinho.

Agora, quando o pânico está voltando, não tem como repetir a dose.
É hora de ela mostrar que tem alguma ideia, por mais vaga que seja, do que está fazendo no comando do país.


Fonte: Instituto Teotônio Vilela
Bateu o pânico

Nenhum comentário: