"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

janeiro 18, 2012

O SORRISO DO LAGARTO


Janeiro de 2013.
Sobe para 22 o número de mortos em Sapucaí, depois que o Corpo de Bombeiros conseguiu localizar mais dois moradores soterrados por um novo deslizamento de terra.

A chuva não dá trégua à região há 11 dias e agora são 87 as cidades em situação de emergência. Nova Friburgo, Teresópolis, Petrópolis, Sumidouro e São José do Rio Preto registram 14 mortos por soterramento e a equipe dos bombeiros prossegue as buscas por mais pessoas desaparecidas.

Notícias como essas foram escritas no passado, estão sendo editadas agora e poderão ainda ser lidas por longo tempo, enquanto as autoridades permanecerem à sombra da inércia das ações de prevenção e reconstrução de infraestruturas destruídas pelos temporais que se abatem sobre os estados das regiões fragilizadas pela ausência de iniciativas dos governantes.

A verdade é que não dá para aceitar facilmente a indiferença do poder diante de uma população sofrida, sem defesas, sem apoio do Estado, que ano a ano luta para melhorar suas vidas.

Não dá para aceitar facilmente ver a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, afirmar que o governo agiu em tempo hábil para minimizar os efeitos das inundações e deslizamentos de terra que derrubam casas — causam centenas de mortes e desabrigam milhares de pessoas.

Muito menos dá para engolir o sorriso cínico do ministro Fernando Bezerra Coelho, da Integração — em jornais e telejornais —, enquanto procura se defender do indefensável, por ser acusado de favorecer Pernambuco com verbas que poderiam ter sido aplicadas na construção de moradias dos habitantes que perderam suas casas em 2010 (ainda sem teto) e em obras de prevenção de desastres naturais.

Mas Bezerra aprendeu bem a lição de outros ministros que, antes de perderem o cargo por desonestidade, se escudaram na presidente Dilma, afirmando que agiram de acordo com o Planalto.

Não se tem certeza científica de que os lagartos riem, quando ensaiam um ataque ou se refestelam ao calor do sol sobre uma pedra. Mas reza a lenda que, no sorriso maléfico do lagarto, reside o símbolo da ironia, da indiferença, da maldade dos poderosos ante a fragilidade do outro.

Quem sabe, na próxima temporada de tragédias, o ministro Fernando Coelho não volte a sorrir nas primeiras páginas enquanto novas vítimas das chuvas de verão enterram seus mortos?

Carlos Tavares Correio Braziliense

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