Os números de novembro das contas externas, apurados pelo Banco Central (BC), deixam claro que a crise financeira global já chegou ao Brasil.
Com o recrudescimento da turbulência, empresas e investidores estrangeiros instalados no país se viram obrigados a enviar mais dinheiro ao exterior para cobrir seus prejuízos lá fora.
Só as remessas de lucros e dividendos mais que dobraram em relação a novembro de 2010, totalizando US$4,2 bilhões, um recorde para o período. A crise também se reflete no comércio exterior, que já está mais fraco e sinaliza que, em 2012, as exportações serão vilãs do balanço de pagamentos.
Estes são os principais fatores por trás do déficit de US$6,8 bilhões nas chamadas transações correntes - o saldo das operações realizadas com o exterior em comércio, serviços e investimentos - no mês passado, o pior desempenho para novembro desde 1947.
O indicador surpreendeu o próprio BC, que esperava um saldo negativo 20% menor para o período.
O movimento não se restringiu a lucros e dividendos. Na conta de capital do balanço, que registra o fluxo de investimentos produtivos e financeiros no Brasil e forma com a conta corrente o balanço de pagamentos, também houve saques significativos.
Foi o caso do US$1,7 bilhão obtido no mercado de ações e títulos de renda fixa e dos US$2,7 bilhões do retorno dos investimentos diretos no setor real da economia, respectivamente 192,7% e 71,5% superiores às remessas dessas rubricas no mesmo período de 2010.
As viagens internacionais também prejudicaram o resultado das contas externas em novembro. Embora o ritmo de crescimento tenha diminuído nos últimos meses, os brasileiros continuam gastando como nunca no exterior. No mês passado, foram US$977 milhões, levando o acumulado de 2011 a US$13,2 bilhões, 41% a mais que no ano passado.
Esse saldo prejudica a conta de serviços, já pressionada pelos gastos do país com o aluguel de máquinas, equipamentos e veículos trazidos do exterior para ampliar a indústria nacional.
O Brasil importa cada vez mais serviços do que exporta.
Só este ano, o déficit na conta de serviços bateu, até novembro, US$34 bilhões. No ano todo de 2010, foram US$30 bilhões.
- Houve um aumento importante de máquinas, equipamentos e veículos, principalmente do setor da indústria de extração mineral - disse o chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel.
Em novembro, os investimentos estrangeiros diretos (IED) não conseguiram cobrir o rombo mensal, ao somarem US$4 bilhões, deixando o balanço de pagamentos no vermelho.
No ano, porém, continuam robustos e cobrindo a conta corrente com folga:
US$60 bilhões, recorde na série histórica iniciada em 1991 e praticamente o dobro do mesmo período de 2010.
A entrada desses recursos deve somar em 2011 US$65 bilhões, e não mais os US$60 bilhões estimados anteriormente. O BC passou a contar, ao contrário, com um déficit nas transações correntes menor: US$53 bilhões, no lugar de US$54 bilhões.
Para 2012, o cenário é bem menos animador. O BC estima que o déficit corrente cresça US$12 bilhões, atingindo US$65 bilhões. O principal responsável pela deterioração nas contas externas devem ser as exportações.
Pelas contas do BC, a balança teria um superávit de US$23 bilhões em 2012, US$5 bilhões abaixo do previsto para este ano. As exportações devem somar US$267 bilhões, contra US$256 bilhões de 2011.
Para a Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) o cenário é ainda mais sombrio. Sua projeção de superávit é de apenas US$3 bilhões, 88,7% menos que este ano. As exportações devem ficar em US$236,580 bilhões, uma redução de 7,2%.
Vivian Oswald e Gabriela Valente O Globo
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