"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

outubro 16, 2011

Uma família, três bolsas



A família do pescador Adão dos Santos, de 50 anos, e da oleira Maria Irineuda Araújo da Silva, de 36, recebe três bolsas de transferência de renda:

Bolsa Família, para três dos quatro filhos em idade escolar, de R$166 mensais;

Bolsa Pesca, de R$545 mensais,
de 15 de novembro a 15 de março, no defeso (época de reprodução de peixes, com a pesca proibida);
e Bolsa Produção, de R$150 mensais, de maio a julho, quando o aumento das águas dos rios e as chuvas inundam a área de extração de barro, necessário à produção de tijolos.

Mas as três bolsas não fazem a família superar todas as dificuldades que enfrenta para alimentar e garantir a educação dos quatro filhos. A residência do casal, no bairro São Joaquim, periferia de Teresina, foi feita com os tijolos que produz, mas não tem portas internas.

O piso é de cimento, e Adão diz que nem sempre tem R$2 que as crianças pedem para lanchar - ou para, por exemplo, participar de uma excursão escolar ao Parque Zoobotânico de Teresina na comemoração pelo Dia das Crianças.

Adão diz que, no período normal, pesca no Rio Parnaíba e conserta barcos e canoas. Há dias em que ganha R$40 ou R$10, dependendo da quantidade de peixes que pega com instrumentos artesanais como o espinhel:

- Ganho mais quando não estou pescando. Com o Bolsa Pesca, em um ano comprei uma mesa para a televisão; no outro ano, um motor para o barco; e, este ano, estamos planejando trocar a geladeira porque a nossa está muito velha.

Maria Irineuda afirma dar "graças a Deus" pelo Bolsa Família.

Mas o dinheiro só dá para comprar alimentos e material escolar:

- Não dá para outra coisa. Temos um menino de 10 anos que precisa tomar hormônio porque parou de crescer, e não temos como conseguir R$50 para comprar o remédio. Há um ano ele não toma o hormônio.

Irineuda conta que terá de largar o trabalho como auxiliar de olaria, porque a prefeitura de Teresina proibiu a extração de argila na área.


Ela vai trabalhar como pescadora, na esperança de ganhar o Bolsa Pesca.


Efrém Ribeiro-*Especial para O GLOBO

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