A família do pescador Adão dos Santos, de 50 anos, e da oleira Maria Irineuda Araújo da Silva, de 36, recebe três bolsas de transferência de renda:
Bolsa Família, para três dos quatro filhos em idade escolar, de R$166 mensais;
Bolsa Pesca, de R$545 mensais,
de 15 de novembro a 15 de março, no defeso (época de reprodução de peixes, com a pesca proibida);
e Bolsa Produção, de R$150 mensais, de maio a julho, quando o aumento das águas dos rios e as chuvas inundam a área de extração de barro, necessário à produção de tijolos.
Mas as três bolsas não fazem a família superar todas as dificuldades que enfrenta para alimentar e garantir a educação dos quatro filhos. A residência do casal, no bairro São Joaquim, periferia de Teresina, foi feita com os tijolos que produz, mas não tem portas internas.
O piso é de cimento, e Adão diz que nem sempre tem R$2 que as crianças pedem para lanchar - ou para, por exemplo, participar de uma excursão escolar ao Parque Zoobotânico de Teresina na comemoração pelo Dia das Crianças.
Adão diz que, no período normal, pesca no Rio Parnaíba e conserta barcos e canoas. Há dias em que ganha R$40 ou R$10, dependendo da quantidade de peixes que pega com instrumentos artesanais como o espinhel:
- Ganho mais quando não estou pescando. Com o Bolsa Pesca, em um ano comprei uma mesa para a televisão; no outro ano, um motor para o barco; e, este ano, estamos planejando trocar a geladeira porque a nossa está muito velha.
Maria Irineuda afirma dar "graças a Deus" pelo Bolsa Família.
Mas o dinheiro só dá para comprar alimentos e material escolar:
- Não dá para outra coisa. Temos um menino de 10 anos que precisa tomar hormônio porque parou de crescer, e não temos como conseguir R$50 para comprar o remédio. Há um ano ele não toma o hormônio.
Irineuda conta que terá de largar o trabalho como auxiliar de olaria, porque a prefeitura de Teresina proibiu a extração de argila na área.
Ela vai trabalhar como pescadora, na esperança de ganhar o Bolsa Pesca.
Efrém Ribeiro-*Especial para O GLOBO
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