Especialista em câmbio e sócio da Tendências Consultoria, Nathan Blanche diz que as medidas anunciadas no câmbio não mudam a trajetória do real.
Ele teme a insegurança gerada pela intervenção e diz que especuladores são minoria nos mercados futuros.
Qual a avaliação do senhor sobre as medidas no câmbio?
NATHAN BLANCHE:
Houve muito barulho e pouca eficiência. O governo tenta mais uma vez controlar algo que é incontrolável. Por trás da queda do dólar, existe uma realidade de crise em mercados relevantes, com o americano e europeu, onde as moedas estão desvalorizadas.
E a economia brasileira precisa da poupança externa para financiar seu forte crescimento, o que implica nesse fluxo de entrada de capitais.
Eu não vejo como o Banco Central e o Ministério da Fazenda podem evitar a queda do dólar sem provocar um grande desastre, uma intervenção irresponsável, que levaria a uma quebra no crédito ao Brasil.
E, nesse caso, o câmbio subiria para algo como R$3, R$4.
Mas o governo defende que a medida é para conter especuladores...
BLANCHE:
Eu tenho um ditado que diz que quem chama os agentes dos mercados de derivativos e futuros de especuladores é porque não tem nenhuma noção da importância da segurança que esse mercado oferece.
Pode ser o mercado de banana, laranja, café ou dólar.
Tem, é verdade, sempre alguém que especula sobre os preços para ganhar dinheiro. Mas esse especulador é uma minoria. A maior parte dos agentes é responsável e quer apenas garantir a segurança de sua operação de crédito, de financiamento.
O Conselho Monetário Nacional passa a poder mexer nas regras de derivativos. Preocupa?
BLANCHE:
É o que me deixa apreensivo.
A legislação do mercado cambial brasileiro tem fragilidades que permitem esse tipo de intervenção do governo. Houve uma consolidação do regime de câmbio flutuante dos anos 90 para cá, mas em termos de lei ainda causa insegurança.
Mas nada de muito dramático aconteceu até agora e o mercado tem encontrado caminhos para trazer dólares.
O Globo
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