"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

abril 01, 2011

ESTADO EMPRESÁRIO, ESTADO PERDULÁRIO.

Nunca antes na história se viu tamanha ingerência do governo em empreendimentos privados no país. O alvo mais óbvio continua a ser a Vale, mas agora a interferência se estende até a empresas d'além-mar, como a EDP portuguesa.

Sob o PT, o Estado transformou-se num enorme balcão de negócios, ora intrometendo-se diretamente no dia-a-dia de decisões que deveriam ser puramente empresariais, ora atuando como pronto-socorro de companhias remediadas. A conta fica para o contribuinte pagar.

A sobrecarga governista sobre a Vale continua, como revela em manchete a edição de hoje de O Estado de S.Paulo.
"O Palácio do Planalto determinou ao Ministério da Fazenda estudar uma forma de taxar fortemente a exportação de minério de ferro e desonerar o aço. A ideia é reduzir a venda da commodity e aumentar a comercialização de produtos siderúrgicos brasileiros no exterior".

A manobra governista é grotesca:
visa forçar a Vale a desviar o minério de ferro que extrai no Pará e exporta para todo o mundo para a produção de aço em uma siderúrgica a ser construída naquele estado. Trata-se de queda de braço que vem desde os tempos de Lula e que Dilma Rousseff manteve - e foi uma das razões da substituição, ontem oficializada, de Roger Agnelli na presidência da companhia.

Pelo jeito, os petistas do governo se acham melhores empresários do que os próprios gestores de negócios privados do país...
Seria melhor que, antes de levar qualquer bobagem adiante, ouvissem o que têm a dizer executivos dos dois setores afetados pela medida em gestação no Planalto.
A desaprovação deles à pretensa sapiência petista é unânime.

"Os produtores de aço estão investindo em mineração e o governo quer forçar as mineradoras a investir em siderurgia. Não tem o menor sentido", disse um empresário do setor de mineração ao Estadão.

Nem mesmo representantes da siderurgia aprovaram:
"Quando a gente fala em desonerar, tem de ser para a cadeia como um todo", defendeu Marco Polo de Mello Lopes, presidente executivo do Instituto Aço Brasil.

O problema é que produzir aço hoje é mau negócio, ao qual nenhuma empresa se lançaria a bel prazer.
Há excedente na produção mundial - de 550 milhões de toneladas - a ponto de, no ano passado, as próprias siderúrgicas existentes no país terem desativado nove altos-fornos para evitar a superabundância.
Será que o governo entende melhor do negócio do que elas?

Uma boa resposta aos desacertos e aos danos que a ingerência estatal está gerando sobre os negócios privados vem do comportamento dos fundos de ações da Vale no mercado. Também em manchete hoje, O Globo mostra que a "interferência política" tornou o FGTS-Vale a pior aplicação do mercado em março.
Os fundos - nos quais, em 2002, 254 mil trabalhadores investiram parte de seu FGTS em papéis da mineradora - perderam 6,8% no mês até o último dia 28.
No ano, o recuo é de 4,89%.

Não contente em ser apenas péssimo empresário, o Estado petista se mete a ser pronto-socorro de empresas em maus lençóis.
Ontem, a Eletrobrás divulgou que analisa a compra de parte da EDP portuguesa. Seria uma forma de "internacionalizar" a empresa, dizem, embora a estatal brasileira esteja longe de conseguir sanear suas próprias subsidiárias mergulhadas em déficits pelo país afora.

À lista se juntam a possibilidade de os Correios aportarem dinheiro no desgovernado projeto do trem-bala - mais uma vez adiado por causa do risco de ir a leilão sem conseguir atrair o interesse firme de nenhum investidor privado - e o providencial socorro que a Petrobras deve dar ao grupo Bertin, às voltas com dívidas e compromissos não honrados no setor elétrico, como mostrou o Valor Econômico em sua edição de ontem.

A história de um estado empresário, de gigantescas proporções e tentaculares alcances, já foi vivenciada pelos brasileiros no passado. Desembocou num processo de descontrole fiscal, descalabro inflacionário e retrocesso generalizado na economia. São riscos que novamente voltam a nos assombrar.
A sociedade sabe que esta é uma carteira de investimentos micada e não pretende ver seu dinheiro apostado nela.


Fonte: ITV

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