"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

abril 02, 2011

ABSURDO DOS ABSURDOS. CASTA DA VADIAGEM.

Sistema biométrico começou a funcionar ontem.
Mesmo assim, funcionários encontraram maneiras de registrar a frequência e escapar da labuta diária

O Senado gastou R$ 1,2 milhão para instalar o ponto biométrico, que teve sua inauguração oficial ontem. Mas nem mesmo com a exigência de passar o crachá magnético e colocar o polegar na leitora a Casa estará livre dos servidores fantasmas e gazeteiros.

Funcionários do Senado descobriram uma maneira de driblar o ponto biométrico e garantir pagamento do dia trabalhado, enquanto usam o tempo do expediente para atividades pessoais.

Distante dos salões do Congresso, a máquina de ponto que fica nos arredores do serviço médico da Casa é disputada pelos servidores que marcam presença, mas fogem do trabalho.
No primeiro dia de funcionamento do ponto biométrico obrigatório, o Correio acompanhou a rotina matinal de servidores que escolheram o aparelho afastado dos olhos dos chefes para falsificar a comprovação de frequência.


Das 7h às 9h, o movimento na leitora de ponto que fica perto de uma agência da Caixa Econômica Federal é movimentado. Servidores passam pela cancela que dá acesso ao local e deixam o carro ligado enquanto correm para registrar a presença. Depois, ganham asfalto rumo a pistas que dão acesso às Asas Sul e Norte, mas bem longe do Congresso.

Na ensolarada manhã de sexta-feira, depois de uma semana legislativa esvaziada pela morte do ex-presidente da República José Alencar, servidores não se intimidaram em fraudar o ponto. O movimento começou cedo, às 7h31 um homem de aproximadamente 40 anos, vestindo calça jeans e tênis, chega com o som alto, em um Polo preto. Ele encosta o carro na calçada próxima de onde fica o ponto e, em menos de dois minutos, registra presença e vai embora, em direção à Asa Norte.

Com o cachorro
Menos de quarenta minutos depois, a cena se repete. Dessa vez, uma mulher em uma picape Suzuki prata, acompanhada de um cachorro branco, desce do carro vestindo uma calça de ginástica, tênis e um casaco.
Ela estaciona do lado contrário à entrada onde fica o ponto biométrico, registra presença e sai em alta velocidade em direção aos anexos dos ministérios.

A prática não é novidade para os servidores.
Funcionários cumpridores dos deveres se dizem revoltados com a gazeta e contam que, não raro, colegas batem ponto de bermuda e vão para casa, em vez de trabalhar. O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), encaminhou ofício na noite de ontem responsabilizando os diretores de seções pela fraude na frequência.

“Tendo recebido denúncias de que alguns funcionários estão burlando a frequência da Casa, registrando presença no ponto eletrônico e depois se ausentando de suas obrigações funcionais, determino oficiar aos diretores das diversas seções do Senado a apuração dos fatos, ressaltando a responsabilidade pessoal do funcionário e de seu superior. Caso haja comprovação(sic) das denúncias, proceda-se a abertura de sindicância.”

Josie Jeronimo e Leonardo Santos Correio Braziliense

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