"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

março 31, 2011

PARA O BRASIL CONTINUAR MUDANDO : HERANÇA MALDITA - MENOS CRESCIMENTO E MAIS INFLAÇÃO.

O governo Dilma Rousseff desistiu de ter uma inflação comportada no país neste ano. A meta para o custo de vida definida para 2011 foi oficialmente sepultada ontem pelo Banco Central, sem nenhuma honraria.

Também estão moribundos o crescimento do PIB e, pior de tudo, a estabilidade da moeda. É um estrago e tanto para quem apenas acaba de completar três meses de gestão.


No Relatório de Inflação publicado ontem, o BC indicou que a inflação deste ano deverá ficar em 5,6%, bem distante, portanto, da meta de 4,5% definida pelo Conselho Monetário Nacional. Em contrapartida, as projeções oficiais para a expansão da economia recuaram de 4,5% para 4%.
Em suma, o que Dilma nos oferece até agora é isso:
mais inflação com menos crescimento. Uma mistura indigesta.


A inflação no Brasil já vai muito alta:
no acumulado em 12 meses, bate 6%.

Numa lista com 14 países, "o Brasil aparece com a segunda maior taxa de inflação acumulada até fevereiro, atrás apenas da Índia", informa a
Folha de S.Paulo.

Além disso, as autoridades monetárias brasileiras têm sido mais tolerantes quanto ao comportamento dos preços:
a meta de inflação adotada no país é uma das mais altas entre as nações que seguem igual regime no mundo.


O risco agora é passarmos a conviver naturalmente com uma inflação tão elevada - e que em alguns setores já chega a dois dígitos, como é o caso de serviços, aluguéis, energia e comunicações.

Com a atitude agora oficializada, o BC de Dilma chancela altas generalizadas de preço num patamar acima dos 5,8% agora aceitos como naturais para a inflação brasileira deste ano.
Ou seja, o que era meta vai acabar virando piso.
"O BC pode criar um problema de enrijecimento da própria inflação. O quadro é potencialmente perigoso", avalia O Globo hoje em editorial.


Os efeitos deletérios vêm em cadeia, uma vez que remanesce na economia brasileira um pernicioso mecanismo de indexação, herança dos tempos pré-Plano Real.
O próprio BC admite tais riscos numa das 144 páginas do "Relatório":
"Existem mecanismos regulares e quase automáticos de reajustes, de jure e/ou de facto, que contribuem para prolongar, no tempo, pressões inflacionárias observadas no passado. (...) Os riscos associados aos mecanismos de indexação tornam-se particularmente importantes em 2011".


Gostemos ou não, o primeiro ambiente onde decisões de política monetária reverberam é o mercado financeiro. E ele está torcendo o nariz tanto para o que o BC quanto para o que a presidente da República têm dito em relação à inflação.

Ontem, uma vez conhecido o teor do "Relatório", os contratos de juros mais longos negociados na BM&FBovespa tiveram alta, "sinalizando que os agentes esperam uma piora do cenário futuro, seja com uma aceleração da inflação, seja pela necessidade de novas elevações da taxa básica", informou o Valor Econômico.

Em outra reportagem, o jornal conclui que as expectativas quanto ao comportamento da inflação e dos juros vêm se deteriorando desde setembro de 2010, pondo "em xeque" a capacidade de o BC colocar a inflação no eixo:
"Apesar do discurso, aperto monetário de um ponto percentual e inúmeras medidas, os juros futuros de longo prazo insistem em subir, as expectativas de inflação tanto na pesquisa Focus quanto a implícita nos preços dos títulos públicos seguem em alta e o dólar só cai".


A data que o Valor identifica como o ponto inicial em que as expectativas começaram a azedar coincide com o ápice do período eleitoral do ano passado. Foi justamente quando ficou evidenciado que o governo do PT manobrava pesadamente os gastos públicos para Lula eleger sua sucessora. Desde então, os sinais de recrudescimento da inflação se tornaram cada vez mais perceptíveis, mas o governo pouco agiu.

É unânime a avaliação de analistas econômicos de que o BC - ou seja, o governo de Dilma Rousseff - está assumindo "riscos demais" na lida com a inflação. A autoridade monetária decidiu apostar em medidas de política monetária que ninguém sabe ao certo no que vão dar, e justamente numa hora em que o custo de vida descontrola-se.

O momento não parece ser o mais adequado para experimentos de laboratório.
A tolerância pode acabar se mostrando excessiva.


Fonte: ITV

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