"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

novembro 08, 2010

ISENÇÃO E JORNALISMO.

Após as eleições, alguns leitores reclamaram a este repórter do que chamaram de intolerância dos analistas políticos.

Referiam-se eles às análises dos debates televisados, que houve entre os dois candidatos.

“As conclusões dos jornalistas — diziam — atrapalharam por serem casuísticas sobre os dois, o que não ajudou a julgar o mérito de cada um deles”.

Esses debates, vale recordar, descambaram muito para o varejo, face ao exagero das posições oblíquas, de parte a parte, e isso deve ter entediado os jornalistas, obrigados a assisti-los.

Em nome da isenção, tais profissionais mostraram, conforme deviam, o lado ruim dos candidatos, após os debates, mas quase como se esses fossem iguais em tudo, inclusive nas ligações com trapaças de amigos delituosos.

Resultou disso a impressão de que tanto faria votar num como no outro.

Recorde-se que essa abordagem desconstrutivista, pelas denúncias de escândalos, de lado a lado, fez um religioso petista dizer que não via a política sob o viés moral, o que este repórter achou descabido, pois os litigantes, no segundo turno, em tese, eram supostamente fichas limpas, mas trocaram acusações pesadas sobre sujeiras recíprocas.

Isso deve ter frustrado os milhões de brasileiros que exigiram a lei contra fichas sujas na política.

Os debates suscitaram dúvidas sobre se os dois eram limpos.
As opiniões críticas, no fundo, pareciam pregar o não comparecimento do eleitor às urnas, o voto nulo ou em branco.

O juízo sobre candidatos pecou por ignorar as circunstâncias do pleito, escandalosas como as de 1930, falseadas, então, menos pelo governo do que pelos derrotados por 400 mil votos, que fariam a revolução.

Sobre isso, veja-se o arquivo de reconhecimento dos votos de Vargas, em seu estado, bem maior do que o de votantes.

O povo achou que só o governo fraudara.

Hoje, ao contrário, criou-se a violação oficiosa do processo eleitoral a favor de uma candidatura.

O poder do Estado, pesquisas indutoras de voto e confusão nos debates ajudaram. Mas a desigualdade na disputa elegeria até um poste.

No caso, a vitória de quem quer que fosse não dignificaria a democracia.

Assim, que a vencedora governe bem e desfaça os malfeitos, para entrar na história melhor do que aquele que os fez para elegê-la.

Rubem Azevedo Lima/Correio Braziliense

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