"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

outubro 14, 2010

TRANSAÇÕES CORRENTES E DÍVIDA EXTERNA BRUTA

Na reunião do Fundo Monetário Internacional o ministro Guido Mantega, que minimizava o problema do déficit das transações correntes do balanço de pagamentos, não escondeu suas preocupações diante das perspectivas do seu aumento nos próximos anos.

E diversos fatores contribuem para esse déficit:

a queda das exportações brasileiras para os países industrializados e o aumento das importações de países com moeda desvalorizada;

a taxa cambial do Brasil, fruto de um excesso de liquidez nos países industrializados, que dela se aproveitam; e uma taxa de juros muito alta no País, que estimula operações de arbitragem.

Nesse quadro, as empresas brasileiras e o Tesouro conseguem captar recursos no exterior com grande facilidade, aproveitando-se de que, com taxas de juros locais muito próximas de zero, os investidores estrangeiros estão aptos a oferecer créditos a uma taxa que seja razoável em relação às nossa taxas internas.

Assim, entramos na situação paradoxal de um déficit em transações correntes - que está aumentando - e de um crescimento da dívida externa bruta na mesma proporção, já superando as nossas reservas internacionais, constituídas a um preço muito elevado, que o Banco Central (BC) procurou consolidar para enfrentar eventuais dificuldades na conta externa.

Essa política, no entanto, aumenta o déficit público, o que nos obriga a captar recursos tanto no mercado interno quanto no externo, favorecendo um aumento das taxas de juros.

Na visão do BC, os países industrializados estarão em situação econômica difícil por um longo período, o que tão cedo não nos permitirá aumentar nossas exportações para eles.

Ao contrário, verifica-se naqueles países um retorno ao protecionismo no setor agroindustrial.

A China não mostra nenhuma vontade de favorecer uma valorização da sua moeda e outros países estão entrando nesta guerra cambial, como o Japão.

Isso significa que as importações continuarão crescendo, causando um processo de desindustrialização em nosso país.

O governo tomou medida para conter os fluxos de capitais estrangeiros aumentando o IOF, por enquanto com pouco efeito.
O resultado benéfico mais amplo seria a redução da nossa taxa de juros.

Dificilmente escaparemos da necessidade de medidas protecionistas para conter a invasão de produtos chineses.

E será necessário reduzir a contratação de dívidas no mercado externo para evitar um crescimento excessivo dos juros a pagar, diante da perspectiva de não mais conseguirmos esses empréstimos, por causa do nosso déficit externo.

O Estado de S.Paulo

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