"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

setembro 22, 2010

ROMBO EXTERNO VAI A US$ 60 BI EM 2011, DIZ BC

O Banco Central prevê que o déficit em conta corrente - que registra todas as transações de bens e serviços com o exterior - vai atingir US$ 60 bilhões em 2011, ante US$ 49 bilhões esperados para este ano.

Se confirmado, o rombo de 2011, em valores, será a maior da história.

0 aumento das remessas de lucros e a explosão de gastos em viagens internacionais são as maiores pressões sobre essa conta.

Déficit da conta corrente, que registra transações de bens e serviços com o exterior, equivalerá a 2,78% do PIB e será o mais alto desde 2001

O Banco Central prevê que a piora da conta corrente brasileira - que registra todas as transações de bens e serviços com o exterior - vai continuar em 2011.

Em relação ao tamanho da economia, o déficit previsto pelo BC é de 2,78% do PIB (Produto Interno Bruto) em 2011.

Se confirmado, será o mais alto desde 2001.

Para 2010, o BC projeta déficit em conta corrente de US$ 49 bilhões (ou 2,49% do PIB).

A composição do déficit em conta corrente de 2011 é determinada principalmente pelo saldo negativo na conta de serviços e rendas - onde estão itens importantes como remessas de lucros e viagens internacionais.

O BC projeta saldo negativo em serviços e rendas de US$ 75 bilhões em 2011, parcialmente amenizado pelo superávit comercial de US$ 11 bilhões e transferências líquidas de não residentes para o Brasil de US$ 4 bilhões.

Apesar de trabalhar com um cenário de déficit maior, o BC prevê uma melhor qualidade de financiamento das contas externas em 2011.

A estimativa mais pessimista para a conta corrente foi acompanhada de uma previsão bem mais otimista para o fluxo de Investimento Estrangeiro Direto (IED, voltado para a produção) ao Brasil.

A expectativa é que os investimentos externos em produção somem US$ 45 bilhões em 2011, o correspondente a 2,08% do PIB. Para 2010, o BC prevê US$ 30 bilhões - projeção 21% menor do que a anterior.
Cenário pior.

Com isso, o BC prevê que os investimentos produtivos, recursos que têm um perfil de longo prazo e não saem a qualquer momento do País, vão cobrir 75% do déficit externo esperado para o ano que vem. O resto será compensado com folga pelos demais capitais que entrarão no Brasil, como aplicações em ações, renda fixa e empréstimos.

Essa sobra acabará engordando o saldo das reservas internacionais brasileiras. Em 2010, considerando os números projetados pelo BC, o IED vai cobrir apenas 61,2% do déficit em conta corrente.

Olhando-se para os dados em relação ao tamanho da economia - que é a melhor forma de comparação, já que o valor nominal do déficit externo tende naturalmente a ser maior ao longo do tempo - essa análise se mantém.
A diferença entre o déficit em conta corrente e o IED, que terá de ser coberta por outras fontes de dólares, será de 0,7 ponto porcentual do PIB em 2011, pelo cenário do BC.

Já as estimativas para 2010 mostram um cenário pior, com o IED deixando sem cobertura 0,96 ponto do PIB.

Ou seja, as demais fontes de dólares - como os investimentos financeiros - terão papel mais relevante para fechar as contas neste ano do que em 2011.

O quadro esperado para o fechamento de 2010 é muito semelhante aos números atuais. Nos 12 meses encerrados em agosto, o déficit em conta corrente foi de 2,32% do PIB (US$ 45,81 bilhões), enquanto o IED foi de 1,38% do PIB (US$ 27,22 bilhões), o que representa uma diferença de 0,94 ponto do PIB.

Mais pessimista que o BC, o professor de economia da USP Fabio Kanczuk prevê que o rombo das contas externas deve atingir US$ 80 bilhões em 2011.

Para ele, a continuidade do crescimento econômico vai acelerar a deterioração das contas já vista em 2010.

"Como estamos em um regime de câmbio flutuante, essa piora vai acabar afetando as cotações do real, que vai se desvalorizar em algum momento. Quando isso acontecer, as contas vão acabar se equilibrando", diz, ao lembrar que o real mais fraco favorece exportações e encarece a compra de importados e viagens internacionais.

Fabio Graner, Fernando Nakagawa O Estado de S. Paulo

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