Fernando Nakagawa O Estado de S. Paulo
Argumentos técnicos respaldam a decisão do BC de reduzir o ritmo do aperto monetário:
a inflação está mais branda e a atividade econômica dá sinais claros de desaceleração.
Mas uma parte do mercado financeiro pode começar os negócios hoje com a pulga atrás da orelha.
A dúvida é sobre a percepção de que o noticiário político pode ter influenciado em uma parte da decisão anunciada ontem à noite.
O tema é tratado com muita reserva entre analistas e economistas. Oficialmente, são raros os que questionam a atuação do BC, que foi absolutamente vitoriosa nos últimos sete anos.
Mas, ao mesmo tempo, ninguém deixa de citar informalmente que o banco, como membro de um governo, pode estar sujeito a pressões políticas.
É aí que está a vidraça.
Os mesmos números que respaldam a mudança no ritmo dos juros serviram de munição para os críticos à política monetária adotada por Meirelles.
(...)
Esses mesmos dados agitaram parte do Ministério da Fazenda que, nos bastidores, fomentou o debate para a perspectiva - confirmada - de aumentos mais comedidos do juro.
(...)
Crítico nos bastidores da estratégia adotada por Meirelles, o ministro da Fazenda sugeriu a Lula que o crescimento da economia poderia ser comprometido com o aumento de 0,75 ponto.
Na ocasião, Lula indicou que não levaria o tema a Meirelles.
Esse foi o comportamento de Lula desde o início do governo.
Mas a decisão de diminuir a dose do remédio contra a inflação pode ressuscitar o entendimento de que o BC está, sim, sujeito às pressões do governo.
Memória :
MEIRELLES : CONFLITO DE PRIORIDADES E INTERESSES.
BC : ECONÔMICO OU POLÍTICO? INDEPENDÊNCIA?
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