No total, o Grupo OK, de Estevão, desembolsará R$ 468 milhões que, anunciados com estardalhaço pela AGU como o ressarcimento de "maior valor em casos de corrupção do Brasil e talvez do mundo", representam na verdade uma pechincha para o abonado investidor imobiliário do Distrito Federal, porque o desvio de R$ 169 milhões, consumado há cerca de 20 anos e investigado desde 1997, equivaleria hoje, monetariamente corrigido, a aproximadamente R$ 1 bilhão, o dobro do que Estevão, docemente constrangido, concordou em devolver ao Tesouro, em troca de ter seus bens desbloqueados pela Justiça.
A AGU, por meio de seu site oficial, informou que, "no acordo, a União não abrirá mão de nenhum valor sobre o qual entende ter direito, mantendo garantias suficientes para o pagamento de toda a dívida". Para tanto manterá penhorados 1.255 imóveis de propriedade do ex-senador.
Esse escândalo, que há pelo menos 15 anos alimenta o noticiário político-policial do País, é uma lamentável sucessão de episódios que escancaram, mais do que a frouxidão dos valores éticos na vida pública, a absoluta falta de pudor e a acintosa sem-cerimônia com que criminosos de colarinho-branco, mesmo quando apanhados com a boca na botija, ousam se comportar em público.
São inesquecíveis as cenas patéticas do juiz Nicolau dos Santos Neto, o Lalau, desempenhando o papel de velhinho doente para finalmente obter a regalia do cumprimento em reclusão domiciliar da pena de 26 anos de prisão a que foi condenado.
Luiz Estevão já fora condenado, em 2006, pelo Tribunal Regional Federal da 3.ª Região (TRF3), a 36 anos e meio de prisão pelos crimes de peculato, corrupção ativa, estelionato majorado, uso de documento falso e formação de quadrilha - tudo relacionado ao superfaturamento e desvio de verbas das obras do TRT paulista.
Recorreu da decisão e o processo subiu para o Superior Tribunal de Justiça, cuja Sexta Turma confirmou por unanimidade, em junho último, a sentença da instância inferior, mantendo a condenação à prisão de Luiz Estevão e dos empresários José Eduardo Correa Teixeira de Ferraz e Fábio Monteiro de Barros Filho, ex-sócios da Construtora Incal, responsável pelas obras superfaturadas.
Logo após o anúncio do acordo, o advogado de Luiz Estevão, Marcelo Bessa, exibiu-se diante das câmeras de televisão com assombroso despudor.
Primeiro, gabou-se de que o acordo era muito bom para seu cliente, porque a quantia a ser desembolsada representava apenas uma parcela "ínfima" do patrimônio do senador cassado.
Depois, classificou de "pragmático" o entendimento havido, porque permitirá ao Grupo OK "retomar suas atividades normais". Para quem sabe das "atividades normais" de Luis Estevão, soou como ameaça.
E o magnata do mercado imobiliário da capital da República não perdeu a pose.
Localizado na Inglaterra, permitiu-se fazer graça:
"Por incrível que pareça, embora eu negue (o crime), é melhor pagar e tirar esse aprisionamento".
E acrescentou:
"Tem o "devo, não nego e pago quando puder".
Eu sou o contrário:
"não devo, nego e pago sob coação".
Segundo cálculo feito pela Folha de S.Paulo, a "coação" a que Estevão se diz submetido é altamente lucrativa. Aplicados em algum fundo de renda fixa, desde agosto de 1998, quando os bens do empresário foram bloqueados, os R$ 169 milhões roubados do TRT pela quadrilha valeriam hoje R$ 1,3 bilhão.
Ou seja:
mesmo com a devolução aos cofres públicos de R$ 468 milhões, ainda sobrariam R$ 866 milhões para regalo dos meliantes.
É a comprovação insofismável de que, às vezes, o crime compensa.
O Estadoo de São Paulo