Não daquele falso heroísmo que incensa jogadores de futebol ou vítimas de acidentes, mas do verdadeiro sentido do herói capaz de doar-se em prol de uma causa coletiva.
Nascimento volta e meia se refere ao Sistema, algo que dá o que pensar.
O termo tem uso preciso em Sociologia e não pretendo aqui esmiuçar os estudos que se fizeram sobre o tema para o texto não ficar cansativo.
Apenas esclareço resumidamente que Sistema existe em qualquer grupamento social, sempre composto de um lado por indivíduos singulares e de outro pela complexa rede de relações que caracterizam a convivência recíproca dos indivíduos.
Naturalmente, existem vários tipos de Sistemas e Subsistemas num Sistema global como os Sistemas político, econômico, partidário, etc.
No filme aparece um subsistema estadual que engloba do governo estadual à complexa rede de relações onde interagem indivíduos e instituições como a Secretaria de Segurança, a Polícia Militar, a Assembleia Legislativa e grupos marginais com milícias e narcotraficantes.
A luta do tenente-coronel é travada contra a corrupção e a ilegalidade reinantes que ele corajosamente enfrenta e denuncia.
Se um filme faz refletir, muito mais devia ser repensado com relação ao Sistema real gerado pelo governo petista.
Afinal, é impressionante a quantidade de escândalos de corrupção, de falcatruas, de impunidade que lavram na complexa rede de constelações individuais e institucionais, denunciadas fartamente pela imprensa, mas neutralizadas pelo presidente da República que banaliza crimes e desvios de conduta através de uma retórica onde imperam palavras de baixo calão, piadas de mau gosto e metáforas futebolísticas de cunho populista.
A endeusada figura do líder sindical foi construída pelo grupo de comando do PT, assim como Lula da Silva confeccionou a imagem de Dilma Rousseff.
Como disse Hannah Arendt, denunciando a arte de mentir sempre usada em política e cada vez mais aperfeiçoada:
“A política é feita em parte, da fabricação de uma imagem e, em parte, da arte de levar a acreditar na realidade dessa imagem”.
A imagem que se construiu do pretenso genial Lula é falsa.
Ele na realidade é tosco, por vezes grotesco, faz politicagem, não governa, sua esperteza é exaltada como se fosse dotado de extraordinária inteligência, sendo que a intrínseca malandragem tem o efeito de agradar a seus iguais.
O presidente da República é uma mistura de animador de auditório e cabo-eleitoral.
Não lhe perguntem sobre liturgia do cargo porque em sabe o que é isso. E, ao final, descobre-se o segredo da popularidade que as massas lhe conferem:
Entre Lula e Tiririca não há diferença.
Essa descrição politicamente incorreta será taxada pelos militantes fundamentalistas do PT de preconceituosa, coisa de “zelite”, como ensinou José Dirceu ao mitológico Lula.
Ressalte-se, contudo, em primeiro lugar, que Lula da Silva e os dirigentes governamentais petistas compõem há oito anos a classe dominante onde os poderes político e econômico se somam.
Segundo, falta de modos e certos traços de caráter nada têm a ver com origem humilde. Essa interpretação é tão falsa quanto se dizer que a pobreza em si conduz à criminalidade.
Lula da Silva é o poder personificado do Sistema, sua cara, seu símbolo, sua face visível que oculta a sujeira que existe por trás.
E é ele quem deve manter o Sistema propício aos companheiros dos mensalões, dos dólares na cueca, dos dossiês, dos sigilos violados, das grandes famílias das Erenices 6% e demais companheiros.
Dilma Rousseff é só uma imagem. Não é nada.
Apenas servirá ao Sistema.
O grave problema é que a cabo de oito anos de mandato Lula da Silva deixou de lado os gracejos e assumiu sua verdadeira face.
No afã de preservar o sistema e sentindo-se acima do bem e do mal se tornou colérico, violento, um figura cheia de ódio que mente descaradamente com a intenção de destruir não o adversário, mas o inimigo.
Ele prega o fim da liberdade de imprensa e quer acabar com partidos que o incomodam. Em ataques paranoicos diz que Deus está ao seu serviço para vingá-lo dos parlamentares que não votam como ele quer.
Como um Mussolini dos trópicos ele não mede as consequências de suas palavras e de seus atos.
Não precisa.
Atrás de Lula está o Sistema que o sustenta.
Por tudo isso ele tem a tarefa de por lá a insignificante Rousseff.
Através dela, ele e o Sistema petista continuam.
Isso é tudo que importa.
Quem enfrentará o Sistema?
Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga.
mlucia@sercomtel.com.br