Até hoje os colegas de Renato Duque não entendem como ele chegou tão longe na Petrobras. O engenheiro, que nunca havia ocupado cargo de destaque, tornou-se diretor de Engenharia e Serviços depois que o PT assumiu o poder. Entre 2003 e 2012, enquanto ocupou o posto, passaram por suas mãos bilhões de dólares em contratos.
Duque, 59, casado e pai de três filhos, foi preso nesta sexta (14) pela Polícia Federal na Operação Lava Jato. Segundo o despacho do juiz Sérgio Moro, ele é suspeito de receber propina de empreiteiras em obras de três refinarias (Repav, Repar e Replan), dois gasodutos (Urucu-Manaus e Cabiúnas) e do complexo petroquímico Comperj.
Na Petrobras, a área de engenharia é responsável por contratar os fornecedores para todas as grandes obras. O PT fazia questão de controlar essa diretoria.
Funcionários da Petrobras, que pedem anonimato, dizem que Duque fazia exigências nas licitações que limitavam o acesso a um pequeno grupo. Depois, aprovava aditivos que favoreciam as empresas.
O gasoduto Urucu-Manaus, por exemplo, foi orçado em R$ 1,2 bilhão, mas custou R$ 4,48 bilhões por conta dos aditivos. Duque nega as acusações. Sua defesa afirma que ele está sendo investigado só com base em delações premiadas e que a prisão é injustificada.
O engenheiro teria chegado ao cargo pelas mãos do então ministro da Casa Civil José Dirceu, condenado no mensalão. A informação é negada por ambos.
Em conversas reservadas, porém, Duque admite a amizade com João Vaccari Neto, tesoureiro do PT.
Os colegas diziam que Duque deu um "duplo twist carpado" –uma alusão à ginástica olímpica– ao assumir a diretoria de Engenharia. Gerente, ele pulou dois degraus na hierarquia da empresa: gerente executivo e gerente geral.
Funcionário da estatal desde 1979, gerenciou as áreas de recursos humanos e de contratos da área de exploração e produção. Era considerado na empresa um "engenheiro mediano".
Folha
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