Ontem, dia da Independência do Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ocupou 2min15s de tempo de TV para se dirigir aos telespectadores.
De terno, gravata e distintivo com a bandeira nacional na lapela, poderia facilmente levar ouvintes incautos a pensar que se tratava de um pronunciamento oficial, algo corriqueiro na mais importante data cívica do calendário brasileiro.
Mas, não: Lula foi à TV fazer política eleitoral e defender a candidata do PT à presidência da República.
Fez papel de ventríloquo.
Lula ocupou o horário eleitoral de Dilma Rousseff para falar do escândalo da quebra continuada de sigilos fiscais perpetrada por petistas lotados na Receita Federal.
Mas não disse uma mísera palavra sobre o caso em si.
Não lamentou o fato de alguns milhares de brasileiros estarem sendo vítimas de devassas ilegais, algo constatado pela própria Receita.
Não teceu qualquer comentário sobre o fato de o órgão ter se transformado num "simples balcão de negócios", onde vazamentos são rotina, conforme disse o ministro da Fazenda do governo dele.
Lula preocupou-se unicamente em falar pela sua candidata, livrá-la do contraditório, protegê-la de contestações.
Para isso, usou no seu pronunciamento uma série de tapeações para levar seus ouvintes a crer que a oposição, ao bater-se contra as ilegalidades produzidas por petistas incrustados no aparato estatal, apela para "baixarias", "mentiras", "calúnias".
Coroou o logro dizendo que o que fazem os oposicionistas é "um crime contra a mulher brasileira".
Aí é que reside o ponto: onde está a mulher que quer ser presidente da nação que até agora não disse uma palavra a respeito de um dos maiores escândalos recentes do país?
Por que não vem a público para se pronunciar e condenar os aloprados - da Receita e de muitas outras repartições estatais - que agem contra os cidadãos e os transformam em vítimas da bisbilhotice mal intencionada?
Por que se mantém muda?
Se Dilma não tem condições de manifestar-se numa situação destas, é de se pensar no que pode ocorrer se um dia vier a se sentar na cadeira presidencial e o Brasil se vir diante de uma crise sem precedentes, de um incidente diplomático, de uma emergência inapelável.
Recorrerá ao seu mentor, ao eterno guia?
É difícil saber o que é mais deplorável em todo este episódio: se a pusilanimidade e flagrante inapetência da candidata do PT ou a postura nada republicana de Lula.
Não é de hoje que Lula age desbragadamente como presidente de uma facção e não como presidente de todos os brasileiros.
Lula fala muito para deixar que sua pupila mantenha-se calada.
É ilustrativo que a candidata do PT agora sequer entrevistas conceda.
Atrás de púlpitos, protege-se de perguntas incômodas - a debates, como o de hoje na TV Gazeta, há muito deixou de ir.
Para não falar, alega-se afônica em razão de compromissos eleitorais.
Mas mais correto seria sublinhar seu mutismo, simbólico do que o país pode esperar caso ela saia-se vencedora da votação de outubro.
Vamos às urnas daqui a 25 dias para eleger um presidente, não marionetes.