Dada a toada em que vamos — e caso as instituições e as pessoas comprometidas com a democracia não reajam —, o estado de direito no Brasil falecerá aos poucos, como vem falecendo, sem estrondo, mas em breves suspiros, para lembrar metáfora um tanto cara à literatura.
O que é o escândalo das violações de sigilo?
A transformação em letra morta das garantias individuais da Constituição. O que é o escândalo da Casa Civil?
A transformação do bem público em assunto privado de um partido. Como o governo reage nos dois casos?
No primeiro, acusa a vítima; no segundo, a oposição — que, não por acaso, é justamente a vítima no primeiro caso.
E como reage certa imprensa?
Ora, pergunta a José Serra, por exemplo, se dá mesmo para responsabilizar o PT pela quebra de sigilo já que Dilma não era ainda candidata em setembro de 2009. Isso é pergunta?
Não! Essa é só a desculpa do PT, desmoralizada de saída quando se sabe que os sigilos foram invadidos por petistas e que a declaração de Eduardo Jorge, por exemplo, estava com a turma que fazia a campanha de Dilma.
Isso, sim, é fato, não especulação ou desculpa.
Mas é Serra quem tem de dizer o que acha da, pasmem!, afirmação do PT. Na condição de vítima do partido, é compelido a responder a uma acusação do algoz.
Esse é o estado a que chegou certa imprensa — ou sei lá como chamar a esse tipo de delinqüência.
E noto que não é só a canalha a soldo que está fazendo isso, não.
Em tese ao menos, também há gente séria nessa parada.
Lá vou eu usar o método Lula de argumentação — parece ser o único que certos coleguinhas conseguem entender hoje em dia. Imagino um desses jornalistas sendo assaltado na rua.
Na delegacia, alguém poderia perguntar durante o feitura do BO: “O que o senhor fez para provocar a ação do bandido?
Estava andando em lugar suspeito?
Estimulou, de algum modo, o assalto?”
A isso chegamos.
A política, felizmente, não se move de modo linear. Eventos fora da cadeia de previsibilidades podem mudar humores e tal. Uma coisa, no entanto, é certa.
O ambiente intelectual vigente no país é favorável a um governo autoritário. Dele só se exigirá que seja eficiente e que promova a inclusão social.
Se for debaixo do porrete e da censura, tudo bem.
Com inclusão, isso não deixa de ser, dizem, uma das formas de ser da democracia.
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