"Um povo livre sabe que é responsável pelos atos do seu governo. A vida pública de uma nação não é um simples espelho do povo. Deve ser o fórum de sua autoeducação política. Um povo que pretenda ser livre não pode jamais permanecer complacente face a erros e falhas. Impõe-se a recíproca autoeducação de governantes e governados. Em meio a todas as mudanças, mantém-se uma constante: a obrigação de criar e conservar uma vida penetrada de liberdade política."

Karl Jaspers

agosto 15, 2014

ENQUANTO ISSO... BRASIL REAL : A recessão vem aí

A Copa do Mundo deu um tombo na economia brasileira só comparável ao chocolate que a seleção de Luiz Felipe Scolari sofreu da Alemanha. Com os péssimos resultados registrados em junho, já é praticamente certo que o PIB nacional caiu no segundo trimestre. A recessão pode estar a caminho.

Hoje pela manhã, o Banco Central divulgou seu indicador referente ao nível de atividade da economia brasileira em junho. A queda foi estrondosa: 1,48% sobre maio e 2,68% na comparação com junho do ano passado.


Desde os meses que se seguiram à deflagração da crise financeira mundial, em fins de 2008, a economia brasileira não ia tão mal. No trimestre, a atividade caiu 1,2%, segundo o BC. O indicador serve para antecipar os números oficiais que o IBGE divulga no fim do mês, embora nem sempre coincidam.
Com a divulgação de diversos indicadores referentes a junho e julho, vai ficando claro que a Copa teve efeito danoso sobre o desempenho econômico do país. Na prática, o Brasil simplesmente parou para que os jogos acontecessem.

Mais certo seria dizer que o país foi deliberadamente parado, uma vez que medidas excepcionais, como a decretação de feriados, acabaram sendo a tábua de salvação para que a infraestrutura precária que o governo não deu conta de aprontar a tempo do Mundial não naufragasse.

Com isso, sofreram os mais diversos setores. 
O varejo, por exemplo, teve em junho sua maior queda em dois anos, com recuo de 0,7% em relação a maio. Quando se computam também as vendas de veículos e material de construção, o tombo foi bem maior: 
3,6%, na mesma base de comparação.

Os trabalhadores estão entre os grandes prejudicados pela paralisia que se abateu sobre o país nas semanas da Copa. A geração de empregos em junho foi quase 80% menor que um ano antes e o total de empregados com contratos de trabalho temporariamente suspensos (em layoff) é o mais alto desde 2009.

Daqui a duas semanas, o IBGE divulgará o resultado do PIB do segundo trimestre. O consenso entre os analistas é que ocorreu uma retração no nível de atividade no período. Se confirmado, o número pode levar à revisão do PIB do primeiro trimestre também para o terreno negativo. O país estaria, assim, tecnicamente em recessão.
Trata-se da crônica de um desastre anunciado. 
Há meses a trajetória cadente da economia vem sendo apontada por analistas e críticos como decorrência de decisões equivocadas ditadas por Brasília, que manejou mal a política monetária, explodiu o resultado fiscal e jogou gasolina na inflação, por meio do incentivo desmesurado ao consumo. 
Esta tragédia poderia ter sido evitada.


Este e outros textos analíticos sobre a conjuntura política e econômica estão disponíveis na página do Instituto Teotônio Vilela

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