A produção industrial do Brasil recuou 0,6 por cento em maio, terceiro mês seguido no vermelho e mais uma vez com fraqueza dos investimentos, um novo sinal de que a economia brasileira continuou patinando.
Na comparação com o mesmo mês do ano anterior, a produção industrial caiu 3,2 por cento em maio, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quarta-feira. Os resultados ficaram em linha com a expectativa em pesquisa da Reuters, cujas medianas apontavam queda de 0,55 por cento na base mensal e de 3,20 por cento sobre um ano antes. Em março e em abril, o setor já havia mostrado queda de 0,5 por cento na comparação mensal, segundo o IBGE. O dado de abril foi revisado depois de ter divulgado originalmente recuo de 0,3 por cento.
"Nitidamente a indústria está operando num ritmo bem menor. Mas mais do que a queda em si, destaca-se o perfil dessa perda, que se dá de forma quase que generalizada", disse o economista do IBGE André Macedo.
A indústria convive há tempos com níveis baixos de confiança e a recente queda da produção provocou somente em maio o corte de quase 30 mil trabalhadores no setor. Em junho, já houve sinais de que a situação da indústria não melhorou. O Índice de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês) caiu a 48,7 no mês passado, ante 48,8 em maio, terceiro mês seguido abaixo da marca de 50 que separa crescimento de contração e o pior resultado desde julho do ano passado. Depois de o mau desempenho da indústria ter exercido um dos principais pesos sobre a economia brasileira no primeiro trimestre, o próprio Banco Central passou a ver contração de 0,4 por cento do setor este ano, com a economia crescendo 1,6 por cento.
Já o mercado vê expansão do Produto Interno Bruto (PIB) em torno de 1 por cento no ano, e há quem não descarte que a economia brasileira possa entrar em recessão técnica.
INVESTIMENTOS E VEÍCULOS
O principal destaque para o desempenho de maio foi o segmento de Bens de Capital, medida de investimento, com baixa de 2,6 por cento sobre o mês anterior, segundo o IBGE. Também foi a terceira queda seguida, acumulando perdas de 7,5 por cento nesse período. Sobre um ano antes, o recuo foi de 9,7 por cento em maio.
"Certamente o investimento vai ficar paralisado, porque não há perspectivas de melhora nos próximos períodos por causa das incertezas com crescimento econômico, confiança e perda de massa salarial com a inflação alta", destacou o economista para o Brasil da Ático Asset Management, Danilo Delgado.
Já entre os ramos de atividade, o IBGE destacou que 15 dos 24 pesquisados tiveram queda mensal em maio, sendo as principais influências negativas coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-3,8 por cento) e veículos automotores, reboques e carrocerias (-3,9 por cento).
No último caso, também foi o terceiro mês de queda, acumulando perda de 10,8 por cento. Para tentar estimular a atividade, nesta semana o governo anunciou a prorrogação até o fim do ano das alíquotas reduzidas de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para veículos e móveis.
Veja abaixo os resultados da produção industrial de maio:
Categorias de Uso Mensal Anual Acumulado em 12 meses .
Bens de Capital -2,6% -9,7% +4,1%.
Bens Intermediários -0,9% -2,8% -0,8% .
Bens de Consumo -0,3% -2,2% +1,1%.
Duráveis -3,6% -11,2% -0,4%.
Semiduráveis e Não Duráveis +1,0% +0,8% +1,5% .
Indústria Geral -0,6% -3,2% +0,2%
Bens de capital.
A produção da indústria de bens de capital - motor da economia para que novos bens sejam fabricados - caiu 2,6% em maio ante abril. Na comparação com maio de 2013, o indicador mostra queda de 9,7%. No acumulado de janeiro a maio de 2014, houve queda de 5,8% na produção de bens de capital. Já no acumulado em 12 meses, houve recuo de 4,1%.
Em relação aos bens de consumo, a pesquisa registrou queda de 0,3% na passagem de abril para maio. Na comparação com maio do ano passado, houve recuo de 2,2%. No acumulado do ano, a queda é de 0,1%, enquanto a taxa em 12 meses é de 1,1%.
Na categoria de bens de consumo duráveis, como é o caso dos automóveis, o mês de maio foi de queda de 3,6% ante abril, e retração de 11,2% em relação a maio de 2013. Entre os semiduráveis e os não duráveis, houve aumento na produção industrial de 1,0% em maio ante abril, e avanço de 0,8% na comparação com maio do ano passado.
Para os bens intermediários, o IBGE informou que o indicador teve queda de 0,9% em maio ante abril. Em relação a maio do ano passado, houve recuo de 2,8%. No acumulado de janeiro a maio, o instituto observou queda de 1,8%, enquanto a taxa em 12 meses ficou em -0,8%.
RODRIGO VIGA GAIER E CAMILA MOREIRA - REUTERS
(Reportagem adicional de Felipe Pontes no Rio de Janeiro; Edição de Patrícia Duarte)
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