Salvo intervenções ou truques de última hora, o governo terá muita dificuldade em alcançar o objetivo que estabeleceu para si mesmo de fechar o ano com a inflação abaixo dos 5,84% registrados em 2012. Com a escalada do dólar e a pressão por reajuste de combustíveis, o custo de vida tende a pegar embalo e a manter a trajetória de alta.
Ontem, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou a prévia da inflação oficial de agosto: o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) subiu 0,16%, acima das estimativas do mercado.
Nas contas do próprio Tombini, uma valorização de 20% da moeda norte-americana, percentual já alcançado, significa um ponto percentual a mais no IPCA em 12 meses.
No acumulado do ano, segundo o IBGE, a taxa que mede a prévia da inflação oficial chegou a 3,69%, acima dos 3,32% relativos a igual período de 2012. Em 12 meses, o índice ficou em 6,15%, abaixo dos 6,40% nos 12 meses anteriores, mas bem distante do centro da meta do governo, de 4,5%.
Nessa referência, em 2013, o IPCA-15 se manteve acima dos 6% em todos os meses até aqui. Em duas ocasiões, rompeu o teto da meta, de 6,5%: em abril (6,51%) e em junho, quando atingiu o pico de 6,67%, o maior nível desde novembro de 2011.
O mesmo ocorreu com o grupo transporte (-0,55% para -0,30%), bastante influenciado pela revogação de aumentos das tarifas de ônibus urbanos e intermunicipais, trem e metrô, depois dos protestos de rua. Pesaram na composição do IPCA-15I as variações no grupo saúde e cuidados pessoais (0,45%) — que sofre influência direta do dólar, por usar matérias-primas importadas —, habitação (0,56%), artigos de residência (0,62%) e educação (0,68%).
Mesmo se o Comitê de Política Monetária (Copom) forçar a mão e fizer a taxa básica de juros (Selic), hoje de 8,5% ao ano, chegar à casa dos dois dígitos ao longo das próximas três últimas reuniões do ano, é pouco provável que a inflação recue a um patamar inferior ao de 2012.
Além da questão cambial, a defasagem dos preços dos combustíveis se tornou outro grande problema para a equipe econômica do governo. Caso o reajuste seja confirmado, a inflação deve chegar a dezembro girando em torno de 6,2%, tornando o cenário para 2014 ainda mais nebuloso.
O governo não tem cartas na manga para compensar um provável aumento de combustíveis e, assim, tentar blindar a inflação. Pressionado pela Petrobras, o Planalto está segurando ao máximo os preços da gasolina e do diesel porque sabe que há risco de a alta do custo de vida sair de vez do controle. “O governo tem um caminho complicado pela frente. Não vejo muito saída”, previu o economista João Luiz Mascolo, sócio da gestora de ativos SM Management e professor do Insper.
Diante do atual cenário e das perspectivas para o restante do ano, Mascolo disse que somente uma “maquiagem” nas estatísticas faria com que a inflação terminasse 2013 abaixo da registrada em 2012. “Mas isso pouco importa. O mais grave é o governo flexibilizar a meta e achar que está tudo bem se o índice ficar abaixo do teto de 6,5%”, ponderou ele, explicando que a variação de dois pontos percentuais para cima ou para baixo deveria servir apenas para acomodar variações excepcionais de preços.
Nas capitais
Na avaliação dos índices por capital, o maior aumento, em agosto, foi observado em Curitiba (0,51%), por conta do reajuste de 8,64% nas tarifas de energia elétrica. O IBGE identificou o menor índice em Salvador (-0,17%), onde os alimentos apresentaram queda de 1,23%. Em Brasília, o IPCA-15 variou 0,36%, após recuo de 0,04% em julho.
No bolso (em %)
Veja a prévia do comportamento dos preços em agosto
» Índice geral 0,16
» Alimentação e bebidas -0,09
» Habitação 0,56
» Artigos de residência 0,62
» Vestuário -0,12
» Transportes -0,30
» Saúde e cuidados pessoais 0,45
» Despesas pessoais 0,51
» Educação 0,69
» Comunicação 0,07
Fonte: IBGE
DIEGO AMORIM
Correio Braziliense
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