A disparada dos preços no Brasil se tornou motivo de alerta para os investidores. Não sem motivo.
A inflação acumulada em 12 meses no país deverá atingir em junho — o dado oficial sairá nesta sexta-feira — entre 6,7% e 6,8%, índice quatro vezes maior do que a taxa média de 1,5% verificada nos 34 países desenvolvidos e de economias emergentes que fazem parte da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
A disparidade entre os números mostra que o custo de vida do país está a um passo de sair do controle. Será a segunda vez neste ano — a primeira, foi em março — que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) estourará o teto da meta de inflação definido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de 6,5%.
Conforme o Banco Central, em todo o governo Dilma Rousseff, o Brasil registrará inflação mais próximo do teto de tolerância do que do centro da meta, de 4,5%.
Na avaliação dos especialistas, a inflação baixa no mundo é explicada pelo fraco crescimento econômico — os países desenvolvidos estão em crise desde 2008, muito com contração do Produto Interno Bruto (PIB).
"Quando o nível de atividade é fraco, normalmente os agentes formadores de preços não se arriscam a abusar nos reajustes, por temerem na concorrência. Por isso, o comportamento tão tranquilo da inflação nos países vinculados à OCDE", destacou Alcides Leite, professor da Trevisan Escola de Negócios.
No Brasil, com o PIB patinando há dois anos, a produção industrial no limbo e as vendas do comércio perdendo força a uma velocidade impressionante, não poderia ser diferente. Ou seja, o custo de vida teria que ser próximo do centro do que do teto da meta.
O problema, no entender dos especialistas, é que não há oferta suficiente no país, o governo estimulou a concentração de mercados nas mãos de poucas empresas e os investimentos são insuficientes para o aumento a produção.
"O nível de investimento do Brasil é muito inferior ao dos países da OCDE. Aqui, o custo de produção é alto e a produtividade, baixa. Falta mão de obra qualificada e quase não há competição entre os fornecedores", disse Leite.
Estrangulamento
Para Samy Dana, professor de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV), o Brasil experimenta um estrangulamento. "Estamos no pior dos mundos, com crescimento baixo e inflação em alta. Para complicar, ainda temos problemas no câmbio, infraestrutura precária e muita desconfiança dos investidores no país", afirmou.
Segundo ele, a política de estímulos ao consumo interno e de oferta maciça de crédito pode até ter funcionado durante a crise de 2008, mas a insistência nesse modelo está resultado em uma fatura pesada.
"As famílias estão superendividadas. Se não houver investimentos para aumentar a produção nacional, não haverá como crescer com inflação sob controle", resumiu.
No entender de Onofre Portella , o professor de economia das Faculdades Rio Branco, o Brasil sofre hoje por causa de fortes desequilíbrios nos fundamentos da economia.
"Há pouco estímulo para a produção local, a balança comercial está deficitária, os juros inibem os investimentos. Tudo isso leva a uma pressão inflacionária que não existe nos outros países, que ainda se ressentem da forte crise nos Estados Unidos e na Europa, responsáveis por 55% da capacidade produtiva do mundo", disse.
Correio Braziliense
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