Nem mesmo os bancos de montadoras, que costumam ser mais conservadores que as instituições de varejo na concessão de financiamento a veículos, escaparam do impacto do aumento da inadimplência nas carteiras.
No primeiro semestre, o lucro dessas instituições caiu 49,19% em relação ao mesmo período do ano passado, a R$ 219 milhões, segundo levantamento da Austin Rating, com base nos dados do Banco Central. O resultado foi afetado pelo aumento das provisões para crédito de liquidação duvidosa (PDD), com acréscimo de 83,5% no período.
"Grande parte da provisão está relacionada a créditos originados no fim de 2010 e em 2011, uma vez que leva quase um ano para a inadimplência aparecer nas carteiras", afirma Décio Carbonari, presidente da Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras (Anef).
A carteira de crédito dos bancos de montadoras cresceu 19,4% no primeiro semestre em relação ao mesmo período de 2011, a R$ 51,108 bilhões. O anúncio da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para automóveis em maio, como uma das medidas para estimular o crescimento da economia, impulsionou as vendas de veículos leves novos.
Com os grandes bancos de varejo pisando no freio na concessão, os bancos das montadoras tiveram que suprir a demanda por crédito junto aos distribuidores.
Foi o caso do PSA Finance, que financia as marcas Citroën e Peugeot. No primeiro semestre de 2011, do total da venda de veículos novos, 32% eram financiadas pelo banco da montadora. Neste ano, a fatia passou para 37%, segundo Uno Zigue, diretor geral da instituição.
Em 12 meses, a carteira de crédito da instituição cresceu 33,4%, a R$ 1,928 bilhão. O lucro líquido do banco subiu 5,5% no período, a R$ 17 milhões. Somando as operações de leasing, a carteira de crédito total avançou 11%, totalizando R$ 3 bilhões.
A provisão para perdas acompanhou o mercado e subiu de R$ 11,8 milhões para R$ 22 milhões. Com isso, o lucro líquido do conglomerado caiu 1,7%, para R$ 40 milhões.
"O aumento do endividamento dos brasileiros em 2011 comprometeu o pagamento dos financiamento de veículos", afirma Zigue. O executivo explica que boa parte da inadimplência se concentrou nos créditos sem entrada. "Antes, a entrada média exigida era de cerca de 20% do valor do veículo. Hoje essa média já subiu para 30%."
Segundo Zigue, como o prazo médio dos financiamentos de veículos é de três anos, é provável que a inadimplência observada nessas carteiras continue a afetar os balanços dos bancos de montadoras em 2013, embora em menor proporção.
Entre janeiro e junho, o pior resultado entre os bancos de montadoras foi do Banco Scania, com carteira concentrada no financiamento de caminhões. A instituição registrou prejuízo de R$ 3 milhões. Apesar de um aumento de 165,8% da carteira de crédito no período, a provisão para perdas cresceu 367%.
Já no segmento de veículos leves, o pior resultado foi o do Banco GMAC, com uma queda de 76,8% do lucro líquido, a R$ 23 milhões. A carteira de crédito do banco cresceu 70,4% no período, para R$ 5,491 bilhões.
A provisão para perda avançou quase na mesma proporção, 61,2% no período, corroendo o resultado.
Silvia Rosa | De São Paulo
Valor Econômico
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