No auge das denúncias do mensalão, em agosto
de 2005, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva leu um discurso
de 12 minutos, durante a parte da reunião ministerial aberta às
transmissões de tevê, no qual se posicionava oficialmente sobre o maior
escândalo do governo.
“Fui traído”, disse um contrariado líder à nação, quase sem olhar para
as câmeras, reconhecendo a gravidade da crise política que um mês antes
havia derrubado o seu “primeiro ministro” José Dirceu e retiraria de
cena líderes históricos do partido, o PT.
“Estou indignado”, declarava o
mito Lula, blindado até hoje do peso das acusações cujos réus estão na
reta final do julgamento pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
No único improviso que fez durante a fala, afirmou que não tinha
vergonha de dizer que o governo e o PT tinham de “pedir desculpas” ao
povo brasileiro pelos erros cometidos. Dias antes, o publicitário Duda
Mendonça declarou à CPI dos Correios que campanhas eleitorais petistas
de 2002 foram pagas com depósitos em um paraíso fiscal.
O exame em retrospecto das declarações do ex-chefe do Executivo sobre o
escândalo revela contradições se cotejado com o desfecho que a Justiça
está acenando para a emblemática Ação Penal 470.
Já caiu por terra a
tese, defendida depois do “fui traído” e sustentada até hoje, de que
não houve corrupção ativa com desvio de dinheiro público para compra de
apoio parlamentar, mas o suposto “crime comum de todos os partidos”
conhecido como caixa dois ou “recursos não contabilizados”.
Em entrevista exclusiva a uma jornalista em Paris, Lula martelou na
tecla do esquema irregular de financiamento de campanha. Ele tentou (e
conseguiu) separar o Planalto do malfeito partidário. Até dias antes de
passar a faixa à sucessora Dilma Rousseff , resistia a dizer quem e
como o traiu.
Avisou que aproveitaria a sua volta à planície para
provar que o mensalão, no modo como ficou conhecido, foi uma grande
farsa, construída pelos rivais políticos e golpistas invejosos.
Quase dois anos depois, a única coisa que o ex-presidente fez nesse
sentido foi ter uma conversa reservada com o ministro do STF Gilmar
Mendes para tentar convencê-lo da “inconveniência” de realizar a
polêmica análise do mensalão durante o período eleitoral.
A vontade de
esclarecer o caso, quase sete anos depois que veio à tona, parecia
menos que fraca. Lula foi traído… por suas palavras.
Sílvio Ribas Correio Braziliense
Lula traído
Um comentário:
Lula DESPEJA ESGOTO pela boca. Acabou sendo traído por suas próprias palavras.
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