Os preços dispararam em agosto em função da quebra de safras importantes nos Estados Unidos e no Brasil. Enquanto a inflação média do país pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou em 0,41%, o grupo alimentação e bebidas registrou elevação de 0,88%.
Para especialistas, essa alta é apenas o começo.
Os atacadistas ainda não repassaram os aumentos de custo que tiveram nos últimos meses para o consumidor, um movimento que deve ocorrer nesta segunda metade do ano, sobretudo com a melhora do ritmo da atividade econômica. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a carestia oficial no acumulado de 12 meses passou de 5,20% no mês passado para 5,24% em agosto.
Até o fim do ano, a expectativa é que bata pelo menos em 5,5%. O índice de agosto é o pior para o mês nos últimos cinco anos, embora um pouco menor que o 0,43% de julho.
Com a perspectiva de maior pressão no custo de vida até o fim do ano, a missão do Banco Central — de deixar o IPCA em 4,5% — está perdida na avaliação de especialistas. Pelo segundo ano consecutivo, a autoridade monetária vai entregar uma taxa elevada para a presidente da República e para o Brasil. Os economistas, no entanto, ponderam que, dado o cenário mundial e brasileiro, não há alternativa.
"Mesmo esse aumento de preços não seria suficiente para fazer o BC parar de cortar juros em outubro", observou Carlos Kawall, economista-chefe do banco J. Safra. "Temos uma economia que se recupera em ritmo lento e a autoridade monetária está mais preocupada com o crescimento deste ano", ponderou.
O professor de economia da Universidade de São Paulo (USP) Simão Silber lembra que os próximos meses trarão ainda mais pressões sobre o custo de vida. As altas captadas pelos Índices Gerais de Preços (IGPs) devem contaminar o restante da economia neste segundo semestre, ou seja, os atacadistas vão repassar elevações de preços para o varejo.
"A inflação no varejo ainda não deu um sinal de vida mais forte porque a economia está andando devagar, mas isso deve mudar com todos os estímulos dados pelo governo", disse.
Serviços
Pelos dados do IBGE, o Banco Central precisaria domar o preço dos alimentos e dos serviços para botar a inflação no lugar, mas dado o tempo que falta para acabar o ano e a diminuição da oferta de alguns produtos, a missão é considerada impossível.
O quilo do tomate, por exemplo, chegou a subir 50,33% apenas em julho.
Em agosto, a alta arrefeceu, porém a taxa ainda foi pesada: o produto ficou 18,96% mais caro. No acumulado do ano, o feijão mulatinho, item essencial na mesa do brasileiro, foi reajustado em 73,03% — quase dobrou de preço.
Além da comida, serviços importantes, como a consulta médica, também ficaram mais caros:
8,54% nos sete meses até agosto.
"O preço dos serviços é um fator de preocupação porque esperava-se que, com a desaceleração da economia, eles cedessem. Com a retomada, dificilmente eles vão convergir para baixo", explicou Carlos Thadeu de Freitas Filho, economista da gestora de recursos Franklin Templeton.
No acumulado de 12 meses até agosto, os serviços ficaram 8,78% mais caros.
Desde o ano passado, o segmento tem aumentado os preços em torno de 9% anuais, patamar que deve ser mantido devido ao alto nível de emprego.
Carros mais caros
Os carros novos, beneficiados por desconto do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), ficaram 0,34% mais caros em agosto.
A redução da alíquota do IPI, em vigor desde maio, foi uma concessão do governo em troca de manutenção de empregos nas fábricas e de preços.
No início, os valores de alguns carros 0km chegaram a cair, o que foi revertido no mês passado.
De acordo com a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), o Ford Ka 1.0, por exemplo, custava R$ 26.998 em maio, com o IPI antigo, e reduziu-se para R$ 23.492 em julho.
Em agosto, subiu para R$ 24.009.
VICTOR MARTINS Correio Braziliense
Nenhum comentário:
Postar um comentário