O "PIB potencial" está aí, vivinho da silva, a lembrar que somos um país condenado pelos nossos governantes a crescer pouco.
Apesar de todas as promessas e ilusões em contrário
Como o Brasil vai sair da encalacrada simultânea de uma inflação no limite máximo com um dólar no limite mínimo?
O governo parece ter optado pela saída mais confortável.
Juro alto e real forte, o suficiente para funcionar como âncora anti-inflacionária.
As importações seguram a onda dos preços, mesmo ao custo do crescimento, especialmente o industrial.
Na sua coluna de ontem no Valor Econômico, o ex-ministro Delfim Netto afirmou que o crescimento vistoso de 2010 não passou de um artefato estatístico.
O objetivo do articulista foi contrapor aos que pedem mais aperto monetário, e aqui ele está alinhado com a presidente da República, com a Fazenda e com o Banco Central.
Segundo Delfim, o crescimento brasileiro real, depurado das excepcionalidades, vem patinando em torno de 4% ao longo destes anos todos.
E é verdade.
Curioso apenas que o discurso sirva para um público, o mercado, mas não para outro, o povão. Para o mercado afirma-se que o Brasil cresce pouco, e por isso não seria prudente apertar ainda mais a política monetária.
Para o povão vende-se a ideia de que o Brasil arrancou definitivamente para adiante.
O antecessor de Dilma, por exemplo, repisou estes dias a fantasia de que o governo dele derrubou a tese do PIB potencial de 3%, tese segundo a qual a economia brasileira não poderia expandir a uma taxa superior sem produzir inflação excessiva.
Mas se sua ex-excelência olhar os números verá que o tal PIB potencial continua forte e saudável. Depois do "artefato estatístico", a crer nas palavras de Delfim, voltamos à mediocridade.
Crescimento abaixo de 4%, mas agora com inflação acima de 6%.
Na prática, o governo ajustou para dois pontos acima de 4,5% a meta de inflação, sem admitir oficialmente. Na real, a meta agora é 6,5%.
Uma mediocridade, portanto, além de tudo perigosa.
Mas que serve ao governo para refutar pressões ortodoxas.
Caberia talvez aqui algumas perguntas.
E o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento)?
Por que não acelerou o crescimento?
É uma dúvida razoável.
Dirá o governo que estamos crescendo bem mais do que o mundo desenvolvido. Verdade.
Mas uma verdade conveniente.
Pois nossa expansão é bem menor que a dos demais emergentes.
Essa é outra verdade.
Trata-se de um truque habitual.
Conforme o caso comparamo-nos a quem mais convém.
Que tal se nos comparássemos, por exemplo, aos europeus e americanos não só no crescimento, mas também na educação, na saúde, na infraestrutura e na segurança pública?
Mas nosso desafio maior não é decifrar as polêmicas e as malandragens políticas, é crescer e criar empregos.
Há as estatísticas fantasiosas, segundo as quais vai tudo bem.
Aliás, o Brasil talvez seja o único país em que os índices de emprego e crescimento dançam independentemente.
O país pode estar melhor ou pior, mas os números de emprego saem sempre bons do forno oficial.
Curioso.
Na vida que vale escasseia o emprego de boa qualidade e o desemprego entre os jovens permanece motivo de forte preocupação.
Especialmente por causa da estagnação industrial.
Essa filha indesejada do casamento incestuoso do juro alto com o dólar fraco.
Mas que ajuda os governos quando a temperatura dos preços ameaça ficar alta demais. E que se lasque o futuro do país.
Ilusionismo
Alguém com tempo para desperdiçar deveria fazer a lista do número de vezes que as autoridades econômicas vieram a público para garantir que, agora sim, o governo tinha adotado medidas suficientes para conter a valorização do real.
Mas isso não chega a ser notícia. Inclusive porque repete um padrão. Na crise de 2009 era habitual as autoridades virem aos microfones para prometer um crescimento de pelo menos 4%. No fim o número veio negativo, retração.
No Brasil, infelizmente, a regra não é as autoridades econômicas dizerem o que está acontecendo.
Mas o que elas gostariam que nós acreditássemos que está acontecendo.
Nas Entrelinhas Correio Braziliense
Apesar de todas as promessas e ilusões em contrário
Como o Brasil vai sair da encalacrada simultânea de uma inflação no limite máximo com um dólar no limite mínimo?
O governo parece ter optado pela saída mais confortável.
Juro alto e real forte, o suficiente para funcionar como âncora anti-inflacionária.
As importações seguram a onda dos preços, mesmo ao custo do crescimento, especialmente o industrial.
Na sua coluna de ontem no Valor Econômico, o ex-ministro Delfim Netto afirmou que o crescimento vistoso de 2010 não passou de um artefato estatístico.
O objetivo do articulista foi contrapor aos que pedem mais aperto monetário, e aqui ele está alinhado com a presidente da República, com a Fazenda e com o Banco Central.
Segundo Delfim, o crescimento brasileiro real, depurado das excepcionalidades, vem patinando em torno de 4% ao longo destes anos todos.
E é verdade.
Curioso apenas que o discurso sirva para um público, o mercado, mas não para outro, o povão. Para o mercado afirma-se que o Brasil cresce pouco, e por isso não seria prudente apertar ainda mais a política monetária.
Para o povão vende-se a ideia de que o Brasil arrancou definitivamente para adiante.
O antecessor de Dilma, por exemplo, repisou estes dias a fantasia de que o governo dele derrubou a tese do PIB potencial de 3%, tese segundo a qual a economia brasileira não poderia expandir a uma taxa superior sem produzir inflação excessiva.
Mas se sua ex-excelência olhar os números verá que o tal PIB potencial continua forte e saudável. Depois do "artefato estatístico", a crer nas palavras de Delfim, voltamos à mediocridade.
Crescimento abaixo de 4%, mas agora com inflação acima de 6%.
Na prática, o governo ajustou para dois pontos acima de 4,5% a meta de inflação, sem admitir oficialmente. Na real, a meta agora é 6,5%.
Uma mediocridade, portanto, além de tudo perigosa.
Mas que serve ao governo para refutar pressões ortodoxas.
Caberia talvez aqui algumas perguntas.
E o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento)?
Por que não acelerou o crescimento?
É uma dúvida razoável.
Dirá o governo que estamos crescendo bem mais do que o mundo desenvolvido. Verdade.
Mas uma verdade conveniente.
Pois nossa expansão é bem menor que a dos demais emergentes.
Essa é outra verdade.
Trata-se de um truque habitual.
Conforme o caso comparamo-nos a quem mais convém.
Que tal se nos comparássemos, por exemplo, aos europeus e americanos não só no crescimento, mas também na educação, na saúde, na infraestrutura e na segurança pública?
Mas nosso desafio maior não é decifrar as polêmicas e as malandragens políticas, é crescer e criar empregos.
Há as estatísticas fantasiosas, segundo as quais vai tudo bem.
Aliás, o Brasil talvez seja o único país em que os índices de emprego e crescimento dançam independentemente.
O país pode estar melhor ou pior, mas os números de emprego saem sempre bons do forno oficial.
Curioso.
Na vida que vale escasseia o emprego de boa qualidade e o desemprego entre os jovens permanece motivo de forte preocupação.
Especialmente por causa da estagnação industrial.
Essa filha indesejada do casamento incestuoso do juro alto com o dólar fraco.
Mas que ajuda os governos quando a temperatura dos preços ameaça ficar alta demais. E que se lasque o futuro do país.
Ilusionismo
Alguém com tempo para desperdiçar deveria fazer a lista do número de vezes que as autoridades econômicas vieram a público para garantir que, agora sim, o governo tinha adotado medidas suficientes para conter a valorização do real.
Mas isso não chega a ser notícia. Inclusive porque repete um padrão. Na crise de 2009 era habitual as autoridades virem aos microfones para prometer um crescimento de pelo menos 4%. No fim o número veio negativo, retração.
No Brasil, infelizmente, a regra não é as autoridades econômicas dizerem o que está acontecendo.
Mas o que elas gostariam que nós acreditássemos que está acontecendo.
Nas Entrelinhas Correio Braziliense
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